Diante do aumento dos juros e da redução na busca por financiamentos locais, produtores rurais brasileiros estão recorrendo ao crédito internacional como alternativa ao tradicional Plano Safra.
A modalidade, já adotada por grandes companhias do agronegócio, oferece juros mais baixos e maior flexibilidade para investimentos de longo prazo.
Segundo Luciano Bravo, especialista em estruturação de crédito internacional, enquanto as taxas de juros compostos praticadas no Brasil podem ultrapassar 20% ao ano, financiamentos obtidos por meio de fundos estrangeiros operam com juros na faixa de 6,5%.
“O crédito externo proporciona liquidez com custos menores para o empresário do campo”, afirma.
Queda na adesão ao Plano Safra sinaliza retração no crédito rural
O atual Plano Safra, que disponibilizou R$ 400,59 bilhões para o ciclo 2023/2024 — um aumento de 10% em relação ao ciclo anterior — registrou queda no número de contratos assinados.
Entre junho do ano passado e o final de fevereiro de 2024, foram cerca de 1,4 milhão de contratos, contra 1,6 milhão no mesmo período do ciclo anterior.
Ainda de acordo com Bravo, mesmo com o aumento dos recursos e taxas de juros subsidiadas que variam entre 7% e 12% ao ano para produtores enquadrados no programa, o desembolso caiu cerca de 20% até fevereiro, comparado ao ano anterior. O especialista atribui esse cenário à menor capacidade de endividamento dos produtores e à alta inadimplência no setor, reflexo direto do ambiente de juros elevados.
Crédito externo ganha espaço entre grandes empresas do agronegócio
Embora ainda representem uma fatia pequena no total do crédito rural no país, os financiamentos internacionais vêm sendo utilizados por grandes empresas do agronegócio.
A JBS, por exemplo, estruturou parte de sua liquidez — atualmente estimada em US$ 10 bilhões — por meio da emissão de títulos no mercado norte-americano. Outras companhias do setor, como BRF e Cutrale, também já utilizam esse tipo de financiamento para ampliar sua presença no exterior.
Além das taxas mais competitivas, o crédito internacional oferece prazos mais longos para pagamento e pode ser decisivo na viabilização de projetos de expansão, internacionalização e aquisições.
Em 2017, a JBS emitiu US$ 1,25 bilhão em bônus para financiar a aquisição de ativos da americana Tyson Foods, o que contribuiu para um crescimento de 15% nas operações internacionais da empresa.
Modalidade traz vantagens estratégicas
Especialistas apontam que o acesso a fontes de financiamento fora do país aumenta a resiliência das empresas brasileiras e permite a diversificação de riscos.
“O crédito internacional tornou-se uma ferramenta indispensável para empresas que buscam expandir suas operações globalmente”, afirma Bravo. Ele destaca ainda que a estratégia pode ser especialmente relevante em um cenário de incertezas no mercado interno.
A expectativa é que, à medida que o conhecimento sobre essa modalidade se difunda e a demanda por condições financeiras mais vantajosas cresça, o crédito internacional ganhe protagonismo nas estratégias de financiamento do agronegócio nacional.