A primeira edição do Pensa Mundo, série de debates promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), reuniu empresários, especialistas em comércio exterior, embaixadores e outros atores importantes na sede da Firjan, no Centro do Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 2025.
O evento teve como foco a análise da nova geopolítica mundial e a estratégia de defesa da estrutura industrial brasileira.
Desafios Globais e a Competitividade da Indústria Brasileira
O presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano, destacou a importância do encontro para refletir sobre as contribuições da indústria brasileira diante dos desafios globais. Ele ressaltou que os cenários difíceis não são apenas internos, mas também externos.
Caetano mencionou as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China como um dos principais fatores que afetam o mercado internacional, acrescentando: “Infelizmente, a única certeza que nós temos é de que a incerteza é o novo normal.”
Análise do Índice Firjan de Competitividade Global
Durante o evento, Caetano também apresentou dados do Índice Firjan de Competitividade Global, que coloca o Brasil em 46º lugar entre 66 países. “Essa colocação vergonhosa reflete uma perda de seis posições nos últimos dez anos. Em comparação com os países dos BRICS, estamos no último lugar, abaixo da Índia, China e África do Sul”, afirmou o presidente da Firjan, reforçando a necessidade de uma estratégia para reverter esse quadro e questionando as atitudes do governo federal diante da situação.
Caetano também analisou a posição do Brasil nas exportações chinesas. O país ocupa o 18º lugar como destino das exportações da China, representando apenas 2% do total movimentado pelo gigante asiático.
Em contrapartida, as importações brasileiras de manufaturados chineses totalizaram US$ 62,7 bilhões em 2024, sendo 99% dessas operações com produtos manufaturados.
A Perspectiva do Conselho Superior da Firjan
Eduardo Eugênio Gouvea Vieira, presidente do Conselho Superior da Firjan, apresentou uma análise do saldo comercial brasileiro de manufaturados. Ele destacou que, entre 2010 e 2024, o Brasil manteve um saldo negativo, que deve alcançar US$ 95 bilhões em 2024. “O Pensa Mundo é uma série de debates que visa refletir sobre questões socioeconômicas globais e seus reflexos na indústria brasileira”, afirmou Vieira.
Ele também destacou a importância da transição energética como uma oportunidade para o Brasil. “O Brasil se destaca globalmente por sua matriz energética limpa e por projetos importantes. Precisamos transformar isso em uma vantagem competitiva para o país e para a indústria.”
Painéis sobre História, Geopolítica e a Indústria Brasileira
Os dois painéis do evento abordaram temas relevantes sobre a história recente e as mudanças na geopolítica global. O ex-embaixador brasileiro na China, Marcos Caramuru, fez uma análise do comportamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destacando que o país já enfrentou cenários semelhantes no passado, como após a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.
Caramuru ressaltou que “o não envolvimento dos EUA nos conflitos seguiu uma lógica de priorização de seus próprios interesses nacionais.”
Guerra Tarifária e Relações Bilaterais
Caramuru também discutiu a guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China, destacando que, além dos objetivos globais da China, o país busca retomar seu consumo interno. Ele também afirmou que, no cenário atual, EUA e China disputam a influência na Ásia e no Oriente Médio, enquanto as relações entre China e Rússia permanecem estáveis.
Oportunidades para o Brasil na Nova Geopolítica Global
Por videoconferência, o embaixador do Brasil na Alemanha, Roberto Jaguaribe, apontou que a América Latina nunca foi tão mencionada como relevante para a indústria europeia, destacando a afinidade cultural e o potencial de colaboração entre as regiões.
Jaguaribe afirmou que o Brasil possui uma oportunidade única para explorar sua posição estratégica no comércio global, especialmente devido ao déficit comercial com os EUA e o superávit com a China. “O Brasil não é uma ameaça para nenhum desses países”, afirmou o embaixador.
O Papel do Brasil no Novo Cenário Multipolar
Matias Spektor, vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da FGV/SP, explicou as diferenças entre os governos de Donald Trump, destacando a ênfase nas mudanças políticas internas e externas.
Spektor acredita que, apesar das turbulências globais, o Brasil e a América Latina têm diversas oportunidades nesse novo cenário multipolar. “O Brasil sempre sonhou com um sistema multipolar, e agora, nesse contexto, há muitas oportunidades para o país”, concluiu o especialista.
O Pensa Mundo revelou-se um evento fundamental para refletir sobre a posição da indústria brasileira em um mundo em constante transformação, com desafios geopolíticos e econômicos que exigem estratégias inovadoras e uma maior cooperação internacional.