Não é novidade que o coronavírus tem impactado grande parte dos setores da economia. O consumo mundial está sendo revisto, a forma como nos comunicamos está se transformando com sessões online e a economia está girando de forma diferente também. Os investimentos estão com alta volatilidade e o término desse turbilhão não está nem perto de chegar.
No mercado de investimentos, vimos que, quando a quarentena começou na maior parte dos países, em meados de março, a primeira reação dos investidores foi retirar suas aplicações para ter dinheiro na mão, em real ou dólar, com medo de emergências que pudessem surgir. Isso fez com que a Bolsa e os ativos nos quatro cantos do mundo despencassem.
Com as criptomoedas não foi diferente. Em fevereiro, o bitcoin chegou a valer um pouco mais de U$ 10.500,00 e, cerca de um mês depois, despencou para U$ 3.850,00. Havia grande expectativa de que, em uma eventual crise econômica global, seja ela qual fosse, o criptoativo poderia se fortalecer, passando a ser percebidos como reserva de valor ou como um ativo de segurança totalmente digital.
Entretanto, o que vimos com a crise do coronavírus e com o pânico que se estabeleceu no cenário financeiro no mundo todo foi que o mercado de criptomoedas acompanhou a queda, por conta, principalmente, da mudança de preferência dos investidores. Sendo assim, com a alta demanda por liquidez imediata que a crise gerou em seus primeiros dias, o valor do bitcoin também foi afetado e o ativo chegou a ser negociado perto da casa dos US$ 3 mil.
Na minha visão, isso ocorreu por conta do aumento das incertezas. Num cenário como esse, o investidor não consegue calcular com precisão quais serão os reais impactos da crise sanitária. É natural que, em momentos de grandes incertezas, os investidores busquem segurança em ativos menos voláteis ou de menor risco e, até mesmo, se precavejam alocando boa parte do seu capital em moeda fiduciária. De toda forma, o mercado de criptomoedas está performando acima dos demais, ou seja, o impacto foi menor do que nas grandes Bolsas do mundo.
Apesar da alta nos preços de várias criptomoedas, a economia em diversos países está passando por momentos de dificuldades e os governos estão tentando encontrar soluções, como a de imprimir dinheiro para injetar liquidez na economia. Além disso, estão reduzindo os juros para que o dinheiro fique mais barato e as linhas de crédito mais acessíveis, abrindo mão de impostos, diminuindo, dessa forma, suas cargas tributárias para poder dar um respiro para a economia, para as empresas e para a população como um todo.
Os reflexos de tais medidas não serão sentidos agora, no olho do furacão, mas tão logo as lojas voltem a abrir e a roda da economia volte a girar, as consequências da flexibilização das políticas fiscais e monetárias serão evidenciadas. A economia mundial sentirá os efeitos perversos das altas taxas de inflação e também do elevado grau de endividamento dos países, financiado pela impressão de dinheiro.
E o impacto nos investimentos mais tradicionais e conservadores, como ativos de renda fixa, já pode ser percebido. Como consequência, acabam sendo uma péssima opção de composição de um portfólio, por conta do baixíssimo rendimento. E, quando se olha a inflação que será gerada no futuro por conta de todo esse movimento, não é difícil perceber que algumas dessas aplicações terão rendimentos reais negativos (quando ajustados pela inflação).
O que podemos esperar do mercado daqui pra frente é uma provável valorização do bitcoin, ocasionada pela tanto pela alta inflacionária gerada pela da impressão de dinheiro por parte dos governos na esperança de que os efeitos econômicos a pandemia passem logo, como pela redução na emissão de bitcoin programa pelo protocolo.
Daniel Coquieri é COO e cofundador da BitcoinTrade, corretora especializada no mercado brasileiro de criptomoedas.