* Por Marcos Fava Neves
Vamos ao resumo dos fatos de maio: segundo a UNICA, a moagem finalizada até a primeira quinzena de maio (45 dias de safra) foi de 84,15 milhões de toneladas, uma redução de 18,3% comparada aos mesmos 45 dias de 2018 e com mix de praticamente 68% para etanol, contra 65% da safra anterior. Esta moagem produziu 2,97 milhões de toneladas de açúcar (-28,43%), 954 milhões de litros de anidro (-23%) e 3,1 bilhões de litros hidratado (-15%). Vale ressaltar que 150 milhões de litros de etanol já vieram do milho.
Em relação às empresas, duas notas: a Cosan fechou a safra 2018/19 com moagem de 59,7 milhões de toneladas, e alocação de 52% do mix para etanol. Esperam para esta safra de 61 milhões a 63 milhões de toneladas. Vale ressaltar o anúncio da Cocal de projeto de R$ 130 milhões para produção de biometano, advindos da biodigestão de subprodutos da cana como o bagaço, palha e vinhaça, a serem produzidos nos 12 meses do ano. A usina fará 67 mil metros cúbicos por dia e venderá este produto ao mercado consumidor. Grande potencial para a cadeia da cana.
Estamos atrasados com a moagem e também surpreende negativamente a qualidade da matéria prima, quando se considera a concentração de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que está nestes primeiros 45 dias de safra em 114,9 kg por tonelada, quase 4,7% abaixo dos 120,55 kg verificados na mesma quinzena do último ano. De acordo com o CTC (amostra de 114 empresas) estamos com redução de 1,39% na produtividade agrícola, caindo de 83,36 t/ha para 82,2 t/ha para abril.
Sobre o açúcar, o mês nos reservou esta seleção de notícias: A FCStone acredita que a produção de açúcar em 2019/20 será 1,9% menor, totalizando 182,2 milhões de toneladas e a demanda será 1% maior, de 187,9 milhões de toneladas, com isto teremos um déficit de 5,7 milhões de toneladas. Esperam produções menores na Índia (28,6 m.t. ou 13% menor devido a menos chuvas) e Tailândia (13,5 m.t, 9% menor devido ao plantio de outras culturas). Acreditam em produção de 27,8 m.t. no Brasil (9% maior). Os EUA devem produzir 8,5 m.t. (3,5% a mais), Europa 17 m.t. (0,6% menor). Para a safra 2018/19 estimam um déficit de apenas 300 mil toneladas. Os estoques serão de quase 80 m.t. (praticamente 43% do consumo). Abaixaram o mix açucareiro no Brasil para 37,1% (era 40 na primeira estimativa), devido aos preços 35% maiores do petróleo.
Segundo a F.O. Licht, o déficit no ciclo internacional 2019/20 será de 1,7 milhão de toneladas e nesta safra um superávit de 400 mil. A produção total em 19/20 cairia 1,2 milhão de toneladas, ficando ao redor de 185,1 milhões de toneladas. Deve cair na Tailândia e na Índia, além do Brasil.
Nesta safra 2018/19 a Índia superou todos os recordes e afundou os preços do açúcar. Deve produzir 33 m.t., aumentando estoques para 14,7 m.t. (38% maior) e inundando o mercado internacional com 3 m.t. nesta safra, principalmente para Bangladesh, Irã, Sri Lanka e Somália.
Números da Archer indicam que cerca de 11,35 m.t. da safra 2019/2020 estão já fixadas a um preço médio de R$ 1.164 por tonelada FOB, com prêmio de polarização. Isto representaria 54% do total a ser exportado (ano passado estava em 52,7%).
O Brasil chega a um acordo com a China e não vai mais questionar este país na OMC, que prometeu que em maio de 2020 deixará de cobrar a tarifa de 85% sobre exportações acima de 1,945 milhão de toneladas, voltando aos originais 50% de tarifa. Até este valor incidem 15% de tarifas. Com isto nossas exportações devem voltar a crescer para os níveis anteriores a este aumento de tarifa, podendo chegar a 2,5 milhões de toneladas por safra. Com as barreiras nossa exportação caiu muito, ficando de 1 m.t. Segue muito ruim a situação do açúcar, a única boa notícia foi a da China.
Em relação às reflexões dos fatos e números do etanol e energia em maio, começamos com os números da ANP, mostrando o consumo de combustíveis em março no Brasil caindo 4%, puxado pelo diesel com 5,6%, a gasolina com 14,1% e o etanol foi o único que aumentou, 27,4%. Mesmo assim, no primeiro trimestre, tivemos alta de 1,7% no consumo de combustíveis, em virtude do etanol hidratado, que cresceu quase 34% no período.
As vendas de etanol em abril foram de 2,5 bilhões de litros (1,83 bilhão de hidratado e 666,61 milhões de anidro), sendo que as do hidratado estão 36% maiores e os níveis de estoques estão bem mais baixos (50%) do que os existentes neste período na safra passada.
Na primeira quinzena de maio, segundo a UNICA, o Centro Sul comercializou 1,32 bilhão de litros de etanol, quase 16% acima do valor no mesmo período de 2018. O hidratado atingiu 934,72 milhões de litros, recorde para este período, e 21,5% maior que a quinzena de 2018. As vendas de hidratado desde o início desta safra estão 31% maiores.
A FCStone projeta para o etanol a produção agora de 29,1 bilhões de litros em 2019/20, 1,5 bilhão a mais que a sua última previsão. A safra de cana seria de 574 milhões.
A GM lançará até o final do ano o Bolt EV, carro elétrico por um valor próximo a R$ 180 mil, a BMW o i3 por R$ 206 mil, a Jaguar o I-Pace por pouco mais de R$ 400 mil, a Nissan trará o Leaf por R$ 180 mil e a Renault com o Zoe, por R$ 150 mil.
A fala do Presidente Bolsonaro reaqueceu o debate da venda direta de hidratado das usinas aos postos. De um lado argumentos que trarão mais competição e simplicidade ao sistema, de outro, a questão de escala, tributação de PIS e COFINS e sonegação.
Finalizando… qual seria a minha estratégia com base nos fatos agora em junho? O setor vem sendo ajudado graças aos preços do petróleo e ao câmbio deixando a gasolina mais cara. Este fato somado às chuvas que incidiram nos canaviais e atrasaram o início de safra, fizeram o consumo do hidratado surpreender e os estoques caírem, como antecipei aqui há três meses. Esta é a torcida, que o consumo continue forte e que o Brasil consiga tirar quem sabe outra vez algo entre 5 a 10 milhões de toneladas do mercado mundial de açúcar. Hoje ainda aposto que a safra fecha com valor de ATR de R$ 0,643/kg.
* Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.