Com a alta nos preços dos alimentos, uma cena tem sido recorrente nos supermercados: os carrinhos que ficam no mercado estão mais cheios, e os que vão para casa, mais vazios. Essa realidade foi revelada por uma recente pesquisa da empresa Nextop — especializada no segmento de tecnologia, segurança e prevenção de perdas.
Os dados mostram que entre janeiro e junho de 2022, quase 5 milhões de itens foram abandonados nos carrinhos, pelos consumidores. Esse número é 16,5% maior em comparação ao mesmo período de 2021.
A pesquisa incluiu itens cancelados e outros que o consumidor consultou o preço e desistiu de comprar. Entre os produtos que lideram esse ranking estão o refrigerante e o leite. Sobre o tema, o economista especializado em gestão de supermercados, Leandro Rosadas, ressalta que os dados são um alerta aos varejistas.
Já a educadora financeira Aline Soaper, explica sobre as estratégias mais adequadas para adequar a lista de compras ao orçamento.
“Apesar do IPCA de julho ter tido uma deflação de -0,68%, os preços dos alimentos continuaram a aumentar.
Para se ter uma ideia, em 12 meses os alimentos subiram 14,72%. Muito além do IPCA que ficou em 10,07%. Para a maioria da população, esses números que só aumentam, tornam-se reais quando as famílias vão ao supermercado e tem que deixar produtos na boca do caixa, por que o dinheiro não vai dar para pagar.
Com a inflação que estamos enfrentando a algum tempo, acabamos perdendo a referência dos preços dos produtos. O que vemos na pesquisa da Nextop é que as pessoas estão deixando de levar produtos básicos como leite, óleo de soja, e farinha de trigo, até os supérfluos como cerveja, refrigerante e biscoitos”, explica a educadora financeira Aline Soaper.
Leite, óleo de soja, açúcar e farinha de trigo são os itens básicos mais deixados no caixa, segundo a pesquisa. Entre os produtos supérfluos estão: refrigerante, cerveja, molhos, biscoitos, hambúrguer e bebida láctea.
Não por acaso, esses itens estão entre os que registraram maior queda de vendas — estatística também apurada pela pesquisa da Nextop: leite (-13,7%), óleo de soja (-7%), cerveja (-15,6%), biscoitos (-5,1%) e industrializados de carne (-2,8%). Além disso, os produtos abandonados também estão entre os que apresentaram maiores altas de preços nos últimos meses, segundo o IPCA: leite, café, óleo de soja, carne e biscoitos.
“Para os varejistas, esse aumento de 16,5% no abandono dos produtos na boca do caixa é bem alto. Os produtos estão mais caros e acabam encalhando nos supermercados. Consequentemente há uma aquisição menor desses produtos junto a indústria.
Isso faz com que o ritmo das produções diminua também. Se formos comparar, atualmente os níveis de estoque dos supermercados é bem menor que em anos anteriores.
Para os varejistas o fato de os consumidores desistirem da compra, traz um ônus também no que diz respeito ao fluxo de trabalho nos estabelecimentos. Itens como carnes, frios e laticínios, precisam retornar para a geladeira — de forma rápida para não ocorrer perdas desses produtos.
E outros produtos como biscoitos e leite terão que ser organizados novamente nas prateleiras. Isso traz um aumento na carga de trabalho dos colaboradores”, explica o especialista em gestão de supermercados, Leandro Rosadas.
A educadora financeira Aline Soaper, diz que para evitar deixar produtos na boca do caixa, é preciso planejar as compras.
“Ao realizar as compras é importante ir somando os preços durante a escolha dos produtos antes de colocar no carrinho. A antiga calculadora, que hoje faz parte dos telefones celulares, é uma aliada nesse controle. Isso ajuda inclusive no momento de escolha das marcas dos produtos, porque sabendo quanto você pode gastar, você consegue dosar a quantidade e as marcas antes de chegar ao caixa de supermercado e ter que abandonar porque não vai conseguir pagar por todos os itens do carrinho”, orienta Soaper.
Para Leandro Rosadas, do ponto de vista dos supermercados, podem ser adotadas algumas estratégias para minimizar o abandono dos produtos no caixa.
“O fato é que em tempos de inflação as lojas devem se adequar ao bolso do consumidor. Os varejistas podem incluir nas prateleiras marcas mais populares, que tem preços mais convidativos do que as marcas líderes no mercado. Também podem fazer o cadastro de clientes e oferecer descontos ou recompensas. Além disso, sinalizar claramente o valor dos produtos, para que os clientes antes de chegar no caixa, já saibam os valores dos produtos que estão comprando, sem surpresas, e não acabem abandonando os itens no caixa”, finaliza Leandro Rosadas.
Sobre Aline Soaper:
Fundadora do Instituto Soaper de Treinamentos de Desenvolvimento Profissional e Pessoal (Efinc), Aline Soaper é formada em Direito, com pós-graduação em Direção e Orientação Educacional.
Há sete anos, a carioca atua como educadora financeira e formadora de outros especialistas nesta área. Empreendedora desde os 17 anos de idade, Aline era proprietária de uma escola de Educação Infantil, no Rio de Janeiro, em que atendia cerca de 150 alunos e gerenciava uma equipe de 45 pessoas.
Ao perceber a dificuldade dos pais em pagar as mensalidades devido aos problemas financeiros, Aline decidiu mudar de vida e se especializar no ramo de finanças pessoais.
No ano de 2015, iniciou sua atuação como educadora, oferecendo atendimentos individuais, palestras, treinamentos e cursos para o público-final (empresários, analistas etc). No final de 2018, criou o Efinc, que hoje forma educadores financeiros e consultores de negócios pelo Brasil e o mundo.
Sobre Leandro Rosadas:
Leandro Rosadas é economista e especialista em gestão de supermercados, hortifrutis, atacarejos, padarias e açougues. Formado em economia pela UFRRJ, o carioca já atuou como professor universitário e consultor no mercado de varejo.
Hoje, Rosadas é considerado uma das maiores referências entre os especialistas do seu segmento, sendo responsável pela formação em gestão de mais de cinco mil proprietários de supermercados Brasil afora. Leandro também conta com uma rede com mais de 10 supermercados em vários Estados do país.