O Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) reativou um contrato de US$ 2 milhões com a empresa Paragon Solutions, desenvolvedora do spyware Graphite, uma das ferramentas de espionagem comercial mais avançadas do mercado, capaz de hackear telefones celulares e aplicativos criptografados.
A decisão marca a retomada de um contrato originalmente assinado em setembro de 2024, durante o governo Biden, mas suspenso após denúncias de uso indevido da Tecnologia na Itália, onde o Graphite teria sido utilizado para monitorar jornalistas, defensores dos direitos dos migrantes e até associados do Papa Francisco.
Segundo registros públicos, a divisão cibernética de Investigações de Segurança Interna do ICE suspendeu a ordem de interrupção em 29 de agosto de 2025, autorizando novamente o uso da tecnologia. A revelação foi publicada inicialmente pelo jornalista Jack Poulson em seu boletim All-Source Intelligence no Substack.
Na reportagem, o jornalista cita como fonte oficial um aviso público de contratação do governo dos EUA, que confirma a reativação do contrato milionário entre a filial norte-americana da fornecedora israelense de spyware Paragon Solutions e a divisão cibernética da Homeland Security Investigations. Até o momento, nem a Paragon nem o ICE responderam aos pedidos de comentário.
De acordo com publicação do The Washington Post, a decisão gerou preocupação entre críticos, que veem na medida mais um passo da crescente repressão dos EUA contra imigrantes, marcada por detenções antes do julgamento e deportações para o exterior. Procurados pelo veículo de comunicação, representantes do ICE não responderam de imediato ao pedido de comentários.
O que o Graphite pode fazer
O spyware é capaz de:
- Infiltrar-se em aplicativos criptografados como Signal e WhatsApp;
- Extrair mensagens de texto, e-mails, fotos e documentos;
- Acessar backups em nuvem;
- Ativar remotamente o microfone de dispositivos sem ser detectado.
A ferramenta, antes associada a práticas de espionagem em regimes autoritários, agora passa a ser incorporada ao arsenal de monitoramento do ICE em investigações de imigrantes que solicitam benefícios como asilo, TPS, residência e cidadania.
Da suspensão à reativação
A suspensão do contrato ocorreu em linha com uma ordem executiva do presidente Biden (março de 2023), que proibia agências americanas de contratar fornecedores de spyware vinculados a abusos de direitos humanos.
Entretanto, a Paragon Solutions foi adquirida pela empresa americana de private equity AE Industrial Partners, da Flórida, e fundida com a contratada de inteligência REDLattice, da Virgínia. A reestruturação permitiu que a Paragon fosse reclassificada como fornecedora doméstica, abrindo caminho para a retomada do acordo.
Críticas e preocupações
A reativação do contrato gerou forte reação entre grupos de defesa dos direitos civis e especialistas em tecnologia:
“Estamos falando de controle sobre microfones, fotografias, documentos e dados altamente confidenciais. Isso representa riscos graves à privacidade e às liberdades civis, sobretudo das comunidades de imigrantes,” afirmou Feli Michaca, especialista em tecnologia, à Univisión.
Organizações como Access Now alertam que a medida coloca os EUA em contradição com sua própria política externa, uma vez que o governo americano havia condenado anteriormente o uso de spyware contra jornalistas e defensores de direitos humanos em outros países.
“Os americanos devem estar profundamente preocupados com a forma como o governo poderia usar essa ferramenta para fins de repressão doméstica,” disse Michael De Dora, gerente de políticas da Access Now, ao The Washington Post.
Expansão da fiscalização migratória
A notícia surge em meio a uma escalada nas operações de fiscalização migratória sob a atual administração. Segundo a NBC News, o ICE não exige mais aprovação de supervisores para realizar prisões, facilitando operações em larga escala em cidades como Los Angeles, Washington, D.C., Chicago e Boston.
Analistas alertam que a combinação de maior autonomia de agentes com acesso a ferramentas poderosas de espionagem pode levar a um cenário de vigilância sem precedentes, atingindo não apenas imigrantes, mas também jornalistas, ativistas e opositores políticos.
Nota do Editor:
As informações desta reportagem também foram apuradas e publicadas pelas principais mídias global como The Guardian, The Washington, Bloomberg e El País.





















