De fato, a poupança geralmente é o primeiro contato da maioria das pessoas com as aplicações disponíveis no mercado financeiro. Cerca de 67 milhões de brasileiros têm pelo menos R$100 guardados na caderneta. Por isso, é fundamental saber se o rendimento da poupança é interessante para o seu objetivo.
Como funciona a poupança?
A poupança é uma aplicação de renda fixa simples e acessível para todo mundo. Até menores de idade podem ter uma conta em seu nome, desde que sejam representados ou assistidos pelo pai, mãe ou responsável legal.
Para ter acesso, basta escolher um banco de sua preferência, apresentar alguns documentos necessários para a abertura da conta e aguardar a aprovação.
Vale destacar que a rentabilidade da poupança é a mesma em qualquer instituição. Portanto, a escolha do banco não vai influenciar no retorno do investimento.
Qual é o rendimento da poupança?
A regra de rendimento da poupança foi a mesma durante tanto tempo que muita gente ainda não sabe que ela mudou.
Ela já oferecia juros de 6% ao ano quando foi criada, no século 19, pelo imperador Dom Pedro II. Por isso, ainda há quem acredite que a remuneração é sempre de 0,5% ao mês, mais a variação da Taxa Referencial (TR).
Decerto, as regras de remuneração da caderneta mudaram em 2012. Elas valem para todos os bancos, ou seja, você receberá sempre o mesmo na poupança, não importa onde.
Desde então, existe um gatilho que altera o rendimento conforme o patamar em que se encontra a Selic que funciona assim:
- Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês mais a variação da TR;
- Se a Selic estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic + variação da TR.
Essa regra vale para os depósitos feitos a partir do dia 4 de maio de 2012, quando as novas regras passaram a valer. Quem mantém poupanças anteriores a essa data continua recebendo rendimentos como antigamente: 0,5% ao mês + variação da TR.
A Selic alcançou 8,5% ao ano pela primeira vez em maio de 2012 e permaneceu abaixo desse patamar até agosto de 2013, quando os juros voltaram a subir. A partir de setembro de 2017 a barreira dos 8,5% ao ano foi novamente rompida, fazendo o rendimento da poupança despencar.
A rentabilidade da caderneta também está sendo prejudicada pela TR. A Taxa Referencial é calculada a partir das médias das taxas dos CDBs prefixados, emitidos por 30 instituições financeiras. Só que mudanças recentes na fórmula posicionaram a TR em zero desde setembro de 2017.
Como a inflação afeta a caderneta?
A poupança está rendendo menos a cada ano.
Sem dúvida, isso é um problema para os investidores que mantêm todos os recursos aplicados na caderneta. E não é apenas uma questão de ganhar menos do que já se ganhou no passado. A redução da rentabilidade da poupança pode acabar levando a uma perda real de poder de compra.
Vamos entender as razões. Os preços dos produtos e serviços na economia oscilam com o tempo – e o resultado disso é a inflação, que corrói o valor do dinheiro. Proteger as economias da inflação, aliás, é uma das razões para as pessoas investirem no mercado financeiro.
O problema é que investimentos como a poupança estão oferecendo rendimentos tão baixos que estão cada vez mais próximos da inflação. De fato, em alguns momentos, estão até abaixo dela.
Vale a pena investir na poupança?
Por muito tempo, a poupança foi a única opção de investimento para uma enorme parcela da população. Em geral, os produtos financeiros não estavam ao alcance dos brasileiros. Nas últimas duas décadas, no entanto, o mercado se modernizou e essa situação mudou bastante.
A poupança continua sendo uma aplicação sem burocracia. Não exige uma grande reflexão, ou seja, basta transferir os recursos da conta corrente para a caderneta.
Por não prever aplicação mínima, é uma alternativa para quem tem pouco dinheiro para investir. E como não envolve custos e tem garantia do FGC, pode ser uma opção para quem está começando a se organizar financeiramente.
A rentabilidade, no entanto, é muito baixa, enquanto o ganho real chega próximo de zero e às vezes fica até negativo. Isso certamente deve ser considerado na hora de avaliar onde investir.
Algumas outras aplicações de renda fixa com risco equivalente ao da caderneta oferecem uma remuneração mais alta, oferecendo mais chance de preservar o poder de compra futuramente.
3 investimentos mais rentáveis que a poupança
Existem diversos outros investimentos de renda fixa que podem render mais do que a poupança. Ainda que envolvam riscos diferentes, eles podem ser atenuados.
1- CDBs
Os Certificados de Depósito Bancário são títulos emitidos pelos bancos para levantar dinheiro e financiar suas atividades de crédito.
Quem compra um CDB faz uma espécie de “empréstimo” à instituição financeira, em troca de uma remuneração. Uma diferença para a poupança é que a rentabilidade dessa aplicação é creditada diariamente – e não apenas mensalmente, na data de “aniversário”.
Os CDBs mais comuns são pós-fixados e oferecem como remuneração um percentual de um índice de referência de renda fixa. Assim como a própria Selic ou a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro).
Em alguns bancos, essa rentabilidade pode ser tão baixa quanto a da poupança (de 70% do CDI, por exemplo). Mas há outros que, para atrair investidores, podem oferecer bem mais de 100% do CDI.
Assim como a poupança, os CDBs também contam com a cobertura do FGC. Mas diferentemente dela, seus rendimentos não são isentos de Imposto de Renda. A tributação varia de 15% a 22,5%, dependendo do tempo em que a aplicação foi mantida. Quanto maior o período do investimento, menor a alíquota aplicada.
2- LCI e LCA
As letras de crédito – seja imobiliário (LCI) ou do agronegócio (LCA) – funcionam em uma lógica muito parecida com a dos CDBs. A principal diferença é que as instituições financeiras que as emitem devem ter alguma atividade de crédito relacionada a um desses dois setores.
Também nesse caso, as letras mais comuns são as pós-fixadas. Normalmente, elas oferecem uma remuneração um pouco menor que a dos CDBs. É um pouco mais raro, por exemplo, encontrar opções que paguem mais do que 100% do CDI.
Há uma razão para isso: as LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas, assim como a poupança. Como essa é uma vantagem grande para os investidores, as instituições financeiras conseguem negociar rentabilidades menores e, ainda assim, manter a atratividade desses produtos.
As letras também contam com a cobertura do FGC.
3- Títulos públicos
Se quem compra um CDB empresta dinheiro para o banco, quem aplica em títulos públicos empresta dinheiro para o governo em troca de uma remuneração baseada em juros. Com esses recursos, a máquina pública funciona: eles servem para fazer investimentos e manter os serviços em funcionamento.
Os títulos públicos são considerados os investimentos mais seguros do Brasil. Afinal, quem os emite é a mesma grande entidade que imprime o dinheiro do país. Por isso, mesmo sem contar com a garantia do FGC, esses papéis são considerados confiáveis pelos investidores.
Os investidores podem comprar títulos públicos pelo Tesouro Direto, um sistema criado pelo governo em 2002 para facilitar as aplicações das pessoas físicas.
Há papéis prefixados e atrelados à inflação, mas os que mais se assemelham à poupança são os pós-fixados. Estes pagam a taxa Selic que em algumas épocas sofrem com um pequeno acréscimo, em outras, ganham um pequeno desconto.
Há duas diferenças fundamentais entre os títulos públicos e a poupança. A primeira é que existem taxas. Ou seja, é preciso pagar uma tarifa de custódia à B3 (a bolsa de valores é quem organiza o sistema).
Além dela, há também a opcional taxa de administração cobrada pelas instituições que ajudam os investidores a realizar as aplicações. Dentre elas estão os bancos, corretoras ou distribuidoras. Muitas delas isentam as pessoas desse custo, mas isso não é uma regra.
A segunda diferença é o fato de que os títulos públicos têm seus rendimentos tributados. As alíquotas são as mesmas aplicadas aos CDBs (15% a 22,5%, dependendo do período de aplicação).
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