Se eu tivesse que explicar Bitcoin em uma palavra, seria “escassez”. Serão apenas 21 milhões de moedas e a distribuição dessa oferta é feita de forma decrescente e previsível.
E isso diz muito sobre como as pessoas enxergam essa criptomoeda e por que ela caminha em ciclos. E como estou acompanhando o Bitcoin de perto desde 2013, tendo vivenciado 3 ciclos deste mercado, posso dizer que estou acostumado com eles.
Estamos enxergando agora mesmo a maior queda trimestral em 11 anos para o Bitcoin, são quase 59% de perdas em 90 dias. Desde a alta histórica, o BTC perdeu 72% da sua cotação.
É o fim?
Não, é só mais uma das 450 vezes que o “Bitcoin morreu” para a mídia e os críticos. Bitcoin ainda é uma ferramenta útil para a humanidade e ainda vai fazer muita história, mas não atingiu estabilidade e seus ciclos são extremamente voláteis.
Vi muita gente ficando empolgada com Bitcoin em 2021, quando a moeda decolou para mais de 60 mil dólares.
Isso aconteceu poucos meses depois do BTC ultrapassar sua máxima histórica de US $20 mil ao final de 2020. O Bitcoin foi impulsionado por investidores institucionais como Michael Saylor, Jack Dorsey, Paul Tudor Jones, Bill Miller e até Elon Musk, o homem mais rico do mundo.
Embora alguns entusiastas, incluindo eu, acreditassem que, inevitavelmente, o investimento institucional chegaria ao mercado de Bitcoin, era impossível saber quando isso aconteceria.
Esse foi o motivador imprevisível, mas não foi o único causador da alta de preços. Em 2020, mais especificamente no dia 11 de maio, aconteceu o halving do Bitcoin, e ele foi excepcional para acelerar a corrida de alta neste período.
A principal característica do Bitcoin é a escassez, isso porque não existia escassez digital antes da concepção da tecnologia blockchain.
E como ela foi introduzida no Bitcoin? Por meio dos chamados halvings, cortes abruptos de 50% na cunhagem diária de moedas que acontece a cada 210.000 blocos, ou seja, a cada 4 anos aproximadamente. Antes do último halving, 1800 novos bitcoins entravam no mercado diariamente, agora são apenas cerca de 900.
Mas a euforia não dura para sempre, e são as próprias altas que criam o cenário ideal para que as reversões aconteçam.
Como dizia o investidor Howard Marks, os ciclos de mercado são autocorretivos, ou seja, o preço subir demais é motivo suficiente para que realizem lucros e revertam a tendência.
Além disso, o colapso da Luna, que resultou na liquidação de bilhões de dólares em bitcoin que detinham como uma parede de liquidez, a alta de juros pelo Banco Central dos EUA e outros fatores imprevisíveis também impulsionaram a queda.
E agora estamos vendo o Bitcoin retornar à média. Tanto é verdade que estamos encostando na média móvel de 200 semanas no gráfico do par BTC/USD, conforme o analista PlanB compartilhou no Twitter.
Mas essa não é a primeira vez que vemos o Bitcoin perder mais da metade do seu valor de mercado após um grande impulso de alta, como podemos observar no gráfico acima. Aliás, como ele parte de 2013, ele resume os ciclos que eu pude vivenciar de perto no mercado.
Três picos, cada um maior que o outro, seguidos de fortes correções.
Você pode até chamá-los de expansões e contrações de bolhas, eu chamo de ciclos. Mas o que eles têm em comum além do sentimento geral de ganância durante as altas e o de medo durante as baixas? Um halving antes do início do ciclo.
Quando comecei a comprar meus primeiros bitcoins, o mercado tinha acabado de passar pelo primeiro halving, no dia 28 de novembro de 2012, então surfei o começo de uma alta até o pico do final de 2013.
A quebra da Mt. Gox, até então maior exchange do mundo, desencadeou o início da correção. Esse foi o motivo imprevisível.
Mas sejamos um pouco estóicos e esqueçamos o que não podemos controlar ou prever.
O que sobra é o halving, inserido no código do Bitcoin e programado para acontecer de 4 em 4 anos, e o fato de que ele tem movido todos os ciclos do mercado de criptomoedas até agora, independentemente das causas imprevisíveis de mercado.
Com a ressalva de que os halvings devem ser cada vez menos impactantes com o passar do tempo, na medida em que os futuros cortes na cunhagem de moedas serão menos significativos em relação à oferta total de 21 milhões, fica o aviso: o próximo deverá acontecer em 2024.
Texto por Isabela Cury.