mercado de comunicação visual segue em constante transformação no Brasil, movimentando mais de R$ 50 bilhões anuais e consolidando-se como um dos pilares da experiência de consumo. A combinação de tecnologia, sustentabilidade e criatividade tem moldado um cenário dinâmico, onde marcas buscam cada vez mais impactar e fidelizar consumidores tanto no digital quanto no ponto de venda físico.
Um levantamento divulgado pelo portal E-commerce Brasil, com base em estudos da CX Trends 2024, mostra que, apesar de 76% dos consumidores terem comprado online em 2023, 67% ainda preferem realizar compras em lojas físicas. Esse dado reforça o papel estratégico da comunicação visual em atrair clientes e criar experiências diferenciadas no ambiente físico.
Para entender as transformações e tendências do setor, a Revista Capital Econômico entrevistou Julio Cesar de Oliveira, um dos maiores especialistas brasileiros em comunicação visual, com mais de 25 anos de carreira e reconhecido por projetos icônicos que lhe renderam prêmios como o Bureau Criativo – considerado o “Oscar da Comunicação Visual” no país.
Capital Econômico – 1. Como começou sua carreira na comunicação visual e quais foram os maiores desafios no início?
Julio Cesar – Comecei minha trajetória em 1997, aos 19 anos, com a pintura manual de faixas em morim e TNT. Naquela época, o maior desafio era encontrar os materiais certos, desde tecidos até tintas específicas, além da falta de ferramentas adequadas. Esse início, feito com criatividade e improviso, foi fundamental para desenvolver meu olhar técnico, criativo e inovador, que me acompanha até hoje.
Capital Econômico – 2. Você acompanhou diversas transformações tecnológicas no setor. Qual delas considera a mais revolucionária?2. Você acompanhou diversas transformações tecnológicas no setor. Qual delas considera a mais revolucionária?
Julio Cesar – A chegada das plotters de recorte, como a Roland, foi um divisor de águas. Eu já havia passado pela pintura manual e pela serigrafia, quando os adesivos eram cortados manualmente. O recorte computadorizado revolucionou a produtividade, elevou a precisão e abriu um novo horizonte de possibilidades criativas e comerciais para o setor.
Capital Econômico – 3. De todos os projetos que já realizou, qual mais marcou sua trajetória profissional e por quê?
Julio Cesar – Por mais que eu tenha liderado projetos premiados, como a guitarra gigante do John Bull e a fachada do Betinho Carrero 4D — que me renderam dois prêmios Bureau Criativo, o maior reconhecimento do setor no Brasil —, um projeto que realmente marcou minha trajetória foi a fachada do Auto Center Pilot Car, em Curitiba. Na época, aquela fachada em lona se tornou a maior da cidade, executada com uma técnica ainda pouco utilizada. Esse desafio, feito sob muita pressão e com um nível alto de ousadia, consolidou minha reputação como profissional inovador e abriu portas para trabalhos de maior visibilidade em todo o país.
Capital Econômico – 4. A comunicação visual passou da pintura manual à impressão 3D em poucas décadas. Como enxerga essa evolução?
Julio Cesar – Essa evolução é reflexo da constante busca por inovação no setor, e tenho orgulho de ter contribuído com essa transformação. Fui pioneiro na integração de fachadas em ACM em Santa Catarina, letras em PVC expandido e, mais recentemente, impressão e modelagem 3D. Essas tecnologias não só elevaram os padrões de qualidade e eficiência, mas também inspiraram outros profissionais e empresas a modernizarem seus processos.
Capital Econômico – 5. Hoje, tecnologias como inteligência artificial e automação já estão presentes no setor. Que impacto real elas trazem para a produção e para os profissionais?
Julio Cesar – A automação e a inteligência artificial já estão otimizando etapas cruciais da produção, reduzindo erros, aumentando a precisão e acelerando prazos em até 40 %. Para os profissionais, isso significa a necessidade de se atualizar constantemente, ampliando sua qualificação técnica. Esse compromisso com a inovação é algo que carrego comigo, e é por isso que fui convidado a atuar como colunista semanal da revista Grandes Formatos, considerada a principal referência editorial do setor no Brasil. Essa posição me permite compartilhar conhecimento e orientar o mercado sobre as melhores práticas, reforçando meu papel como referência técnica no setor.
Capital Econômico – 6. A robótica pode se tornar parte do dia a dia das empresas de comunicação visual?
Julio Cesar – Com certeza. Hoje, processos como soldagem e pintura já fazem parte da rotina de muitas empresas. O que está chegando agora é a robotização desses processos, algo que antes era restrito a grandes indústrias, como a automobilística. Essa evolução vai democratizar a tecnologia, permitindo que pequenas e médias empresas tenham acesso a soluções robóticas para solda, pintura e outros procedimentos complexos. Esse avanço vai transformar a produtividade, reduzir custos operacionais e elevar os padrões de qualidade no setor de comunicação visual.
Capital Econômico – 7. O que diferencia uma empresa de comunicação visual de sucesso das demais?
Julio Cesar – Agilidade com qualidade. Ao longo da minha carreira, percebi que o maior problema das empresas que enfrentam dificuldades é o atraso na entrega. Uma empresa de sucesso é aquela que consegue cumprir prazos com excelência, mantendo o padrão de qualidade e conquistando a confiança dos clientes. Esse foi um dos diferenciais que me permitiu consolidar parcerias duradouras com grandes marcas e projetos de grande impacto.
Capital Econômico – 8. Quais tendências você acredita que irão moldar o futuro do setor nos próximos 10 anos?
Julio Cesar – Vejo o setor caminhando para uma fase ainda mais tecnológica e sustentável. A impressão 3D, que hoje já é usada para letras-caixa e elementos personalizados, vai evoluir para aplicações mais complexas, permitindo estruturas inteiras produzidas em processos híbridos, com materiais recicláveis e de alta durabilidade. Além disso, a integração da inteligência artificial com realidade aumentada e holografia deve transformar a forma como projetamos e apresentamos soluções, oferecendo experiências imersivas aos clientes antes mesmo da execução. Essas inovações, somadas à automação avançada, vão impulsionar um salto de produtividade e de criatividade no setor.
Capital Econômico – 9. Como as pequenas empresas podem se adaptar às novas tecnologias mesmo com recursos limitados?
Julio Cesar – A terceirização continuará sendo uma solução estratégica para que pequenas empresas acompanhem as inovações tecnológicas. Foi assim com as plotters de recorte, com as routers e com as lasers. No início, as grandes empresas saem na frente, e com o tempo as demais conseguem acessar essas tecnologias por meio de parcerias, até que elas se tornem acessíveis e comuns no mercado.
Capital Econômico – 10. Você conquistou prêmios importantes como o Bureau Criativo. O que esses reconhecimentos representam para sua carreira?
Julio Cesar – Esses prêmios representam o reconhecimento e a validação do meu trabalho. Ser agraciado duas vezes com o Bureau Criativo — considerado o “Oscar” da comunicação visual no Brasil, é uma honra imensa. Esses projetos, executados com equipes altamente capacitadas, reforçam meu compromisso com a inovação e a excelência técnica.
Capital Econômico – 11. Como foi liderar projetos icônicos como a guitarra do John Bull e a fachada do Beto Carrero World?
Julio Cesar – Esses projetos foram experiências transformadoras e cheias de inovação. A guitarra gigante do John Bull, por exemplo, marcou uma mudança histórica no setor, pois foi um dos primeiros projetos a adotar LEDs em substituição ao neon na região. Essa escolha ofereceu maior eficiência energética, vida útil prolongada, baixa manutenção e maior precisão luminosa, garantindo desempenho superior e redução de custos operacionais e estabeleceu um novo padrão de iluminação que inspirou muitas outras empresas no Brasil.
No caso do Beto Carrero World, a complexidade do projeto exigiu que eu desenvolvesse uma tecnologia própria para a produção de letras-caixa em PVC expandido, um material durável e 100% reciclável. Essa inovação reduziu significativamente os custos, aumentou a velocidade de execução e ainda contribuiu para um processo mais sustentável e muito leve, sem comprometer a qualidade e a precisão técnica do projeto. Esses projetos foram pioneiros, consolidando meu papel como um profissional inovador e ajudando a redefinir os parâmetros técnicos e criativos da comunicação visual.
Capital Econômico – 12. Você também atua como mentor e presta suporte a Pequenos negócios. O que o motiva a compartilhar seu conhecimento?
Julio Cesar – O que me motiva, antes de qualquer coisa, é o amor pelo que faço. Eu acredito que o conhecimento só tem valor quando é compartilhado. Ao longo dos anos, ofereci mentoria e suporte técnico gratuito a diversos profissionais e pequenas empresas, muitas vezes em momentos críticos para eles. Ver essas pessoas crescerem, conquistarem seus objetivos e se manterem firmes no setor me enche de orgulho. A comunicação visual me deu muito, e eu sinto que devolver parte disso, ajudando quem está começando ou precisa de orientação, é a minha forma de contribuir para um mercado mais forte, mais humano e mais inovador.
Capital Econômico – 13. Que conselho daria para jovens profissionais que estão iniciando no setor de comunicação visual hoje?
Julio Cesar – Nunca pare de aprender. Invista em capacitação, acredite no seu potencial e faça sempre o seu melhor. E, acima de tudo, seja um bom colega: um bom profissional também é reconhecido pela sua postura ética e pela colaboração com a equipe.
Capital Econômico – 14. De que forma imagina a comunicação visual nos próximos 20 anos?
Julio Cesar – Vejo um setor cada vez mais tecnológico e sustentável. É provável que, em 20 anos, boa parte dos materiais físicos dê lugar a soluções baseadas em energia, como hologramas e projeções, criando experiências mais imersivas e interativas para o público.
Capital Econômico – 15. Quais sonhos ou projetos ainda deseja realizar dentro do setor?
Julio Cesar – Tenho o sonho de criar uma associação voltada para capacitação e valorização dos profissionais do setor, além de um projeto social voltado para jovens que desejam iniciar na área. Quero contribuir.

