A manutenção da projeção da inflação para 2025 em 5,65%, conforme divulgado pelo Boletim Focus desta semana, reforça o cenário de incerteza econômica no Brasil.
O índice permanece acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, o que tem gerado reações cautelosas entre analistas e empresários.
A estimativa de inflação elevada, somada à taxa básica de juros (Selic) projetada em 15% até o fim do próximo ano, sinaliza um ambiente de crédito restrito e consumo pressionado.
Para especialistas do mercado financeiro e gestores empresariais, o atual cenário exige revisão de estratégias, preservação de caixa e contenção de investimentos de risco.
Inflação persistente, juros altos e impacto nos negócios
Para João Kepler, CEO da Equity Group, a projeção inflacionária elevada funciona como um freio ao apetite por risco e impõe desafios aos setores dependentes de crédito e crescimento.
Segundo ele, empresas que se anteciparem ao novo ciclo podem se reposicionar mais rapidamente para atrair capital de forma eficiente.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, vê o cenário como um reflexo do ceticismo do mercado quanto à eficácia da política monetária atual.
Ele destaca que a inflação desancorada, mesmo diante de uma Selic elevada, dificulta a retomada do crescimento e amplia a volatilidade, especialmente no mercado de ativos de risco.
Custo do capital elevado exige cautela
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, ressalta que os juros altos têm se mostrado insuficientes para conter a inflação, o que sugere a possibilidade de novas elevações da Selic. Nesse contexto, o crédito continuará caro, exigindo das empresas mais estratégia para manterem sua competitividade.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, chama atenção para o impacto no setor de serviços, cuja inflação tem se mostrado mais rígida. Segundo ele, o ambiente macroeconômico permanece desafiador, com déficit em conta corrente estimado em US$ 56 bilhões e crescimento do PIB ainda tímido — a projeção subiu ligeiramente de 1,97% para 1,98%.
Adaptação é essencial para pequenas e médias empresas
Theo Braga, CEO da SME The New Economy, alerta que a combinação entre inflação acima da meta e Selic elevada exige dos empresários posturas prudentes. Ele recomenda a preservação de liquidez, a renegociação de dívidas com indexadores mais favoráveis e a contenção de alavancagem.
Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, acrescenta que os pequenos e médios negócios, mais dependentes de capital de giro, devem sentir de forma mais intensa o impacto do alto custo de financiamento.
Ele também aponta a rigidez inflacionária no setor de serviços como um fator de pressão adicional.
Mercado imobiliário sob pressão
No setor imobiliário, a perspectiva é de desaceleração, principalmente nos segmentos de médio padrão financiados por crédito bancário.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, observa que a expectativa de juros elevados até 2026 limita o ritmo de vendas e os lançamentos. Apenas segmentos de alto padrão e fundos imobiliários atrelados à inflação devem manter maior resiliência, segundo ele.
Estratégias conservadoras ganham força
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, o momento pede cautela e foco em eficiência operacional. A recomendação é evitar expansões baseadas em endividamento e reavaliar investimentos de longo prazo, priorizando estabilidade e resiliência.
Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital, reforça que o cenário atual — com crescimento econômico limitado e inflação persistente — reduz o espaço para estímulos monetários e mantém o investimento privado represado.
Ele também alerta para o desequilíbrio fiscal como principal fator de instabilidade interna, apesar do câmbio relativamente estável.