Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O funeral do papa Francisco, marcado para este sábado, contará com a presença de chefes de Estado e de governo de diversas nações. No entanto, Israel será representado apenas por seu embaixador no Vaticano, Yaron Sideman. Essa decisão reflete a deterioração das relações entre Israel e o Vaticano desde o início da guerra em Gaza, em 2023, conforme afirmam diplomatas.
A escolha de uma representação no nível mais baixo é emblemática e ocorre após a decisão do governo israelense de excluir uma postagem nas redes sociais que expressava condolências pela morte do papa. A conta oficial @Israel no X havia publicado uma mensagem de pesar, incluindo a fotografia de Francisco em visita ao Muro das Lamentações, mas a publicação foi deletada posteriormente, gerando confusão sobre o motivo. Autoridades do Ministério das Relações Exteriores de Israel informaram ao Jerusalem Post que a postagem foi um erro.
Israel havia enviado uma delegação presidencial para o funeral do papa João Paulo II, em 2005. Segundo a embaixada de Israel no Vaticano, Sideman representará o país no funeral de Francisco, que terá lugar no funeral deste sábado.
Ponto Crítico nas Relações
Um diplomata, que preferiu permanecer anônimo, caracterizou a situação atual como o “ponto mais baixo de uma espiral” nas relações entre os dois estados. Ele expressou esperança de que ambos os lados consigam encontrar um caminho para superar suas diferenças.
A embaixada israelense limitou sua comunicação nas mídias sociais ao republicar uma mensagem de condolências do presidente israelense, Isaac Herzog, que descreveu Francisco como “um homem de fé profunda e compaixão sem limites”. Por outro lado, até a tarde de quarta-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu não havia se manifestado sobre a morte do papa.
Contexto da Crise
A deterioração das relações entre o Vaticano e Israel se intensificou após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de aproximadamente 250 reféns. Autoridades de saúde palestinas afirmam que mais de 50.000 pessoas perderam a vida em Gaza desde então, e a maior parte da população foi deslocada pela violência.
Na sequência do início do conflito, cresceu a polêmica sobre se o papa Francisco havia usado a palavra “genocídio” para descrever os acontecimentos em Gaza. Embora palestinos que se encontraram com ele e afirmaram que sim, o Vaticano negou essa interpretação.
Durante este período, o embaixador de Israel no Vaticano, Raphael Schutz, pressionou a Secretaria de Estado do Vaticano para que o papa condenasse de maneira mais enérgica as ações do Hamas. Em um incidente anterior, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, chamou a resposta de Israel ao ataque do Hamas de “desproporcional”, o que gerou uma declaração de desapreço da embaixada israelense. Posteriormente, o entendimento foi suavizado devido a um erro de tradução; no entanto, as relações continuaram tensas.
Mais recentemente, o arcebispo Paul Gallagher, ministro das Relações Exteriores do Vaticano, aparentemente fez uma observação crítica ao embaixador em um evento que ambos participaram, reforçando a importância da comunicação diplomática na resolução de diferenças.
Francisco, que visitou a Terra Santa em 2014, sugeriu em novembro que a comunidade internacional deveria considerar se a campanha militar de Israel em Gaza poderia ser considerada genocídio, em uma de suas críticas mais contundentes à conduta israelense no conflito. Em janeiro de 2024, o papa descreveu a situação humanitária em Gaza como “vergonhosa”, provocando a indignação do rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni. Apesar das tensões, Di Segni expressou sua intenção de comparecer ao funeral do papa, mesmo que coincida com o sábado judaico.
(Reportagem de Philip Pullella)