A população brasileira sofreu nos últimos anos. Pandemia, desemprego, inflação, são alguns dos motivos que fizeram com que os consumidores procurassem alternativas que não agravassem o endividamento e a incidência de juros altos.
Entre os destaques se encontra o consórcio, que em agosto deste ano atingiu 9,94 milhões de participantes ativos, representando um aumento de 10,8% em relação ao ano passado, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
Dentre suas modalidades, uma que está conquistando os brasileiros é o consórcio digital.
Esse é o último segmento da Indústria Financeira (bancos, previdência, bolsa de valores, fundos, seguros, etc) a passar por sua transformação digital e é o que ainda encontra mais conservadores para implementar as mudanças que já estamos acostumados em outros mercados. Contudo, ela finalmente começou.
Diferentemente do consórcio tradicional que envolve a assinatura de documentos físicos, visitas presenciais às administradoras e basicamente os mesmos processos desde a década de 60, quando esse mercado surgiu no Brasil, o digital traz mais comodidade, segurança e agilidade ao consorciado, já que todo o processo é realizado de forma online.
Essa modernização do processo se fez necessária diante da necessidade da população brasileira.
Uma pesquisa realizada pelo Centro de Tecnologia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV cia), revelou que o Brasil é um dos países mais digitalizados do mundo com cerca de 447 milhões de dispositivos digitais em uso doméstico ou corporativo, o que representa 2,1 aparelhos por pessoa.
A categoria engloba computadores de mesa, notebooks, laptops, tablets e smartphones, tendo a pandemia sido um papel determinante no aumento de venda de dispositivos e pela preferência da modalidade online.
Como é feita a gestão do consórcio digital
Sem qualquer papel físico envolvido no processo, a gestão de um consórcio digital é realizada por meio de plataformas online, onde os participantes podem acompanhar o andamento do grupo, acessar informações sobre assembleias, ofertar lances e efetuar o pagamento das parcelas da mesma forma e seguindo as mesmas Leis do consórcio tradicional.
Neles os interessados se cadastram em plataformas online de administradoras autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Uma vez cadastrados, os participantes contribuem mensalmente com valores que formarão um fundo comum, chamado de “fundo de contemplação”.
No entanto, como em qualquer consórcio existe a incerteza quanto ao tempo de contemplação. Para aumentar as chances, o consorciado pode ofertar um lance, sendo estes valores adicionais oferecidos durante as assembleias mensais.
A diferença é que no consórcio digital, as ferramentas digitais facilitam o cliente oferecer lances mais assertivos, escolher planos e grupos que melhor atendam o interesse do cliente e definir o melhor momento de contemplação e, assim, fazer um melhor uso do seu consórcio.
Tudo isso é feito através de novas ferramentas como Inteligência Artificial, Machine Learning, ChatBot, entre outros, que oferecem a possibilidade de analisar uma enorme quantidade de dados e devolver ao cliente informações mais assertivas e rápidas, que nenhum ser humano conseguiria compilar, analisar e traduzir em informações práticas para a tomada de decisão do cliente.
É a importância de “usar o digital na medida certa” tendo a certeza que ele está melhorando a jornada do cliente e não apenas sendo utilizado por modismos passageiros.
Contemplação do consórcio digital
Após ser contemplado, o consorciado pode utilizar o valor da carta de crédito para adquirir o bem ou serviço desejado.
A administradora fornecerá orientações sobre os procedimentos para efetuar a compra, que geralmente envolvem a apresentação da documentação necessária e a escolha do fornecedor.
Ou seja, a compra é feita de forma independente e da forma que o cliente preferir, não havendo uma restrição de uso para determinado fornecedor daquele produto/bem/serviço.
O Consórcio Digital é, portanto, a primeira grande revolução, impulsionada pela tecnologia, nesse segmento tão importante para nossa indústria e economia.
E, provavelmente, será a próxima revolução na indústria financeira, depois de toda a ruptura trazida por bancos, seguradoras, corretoras etc. O mercado tradicional não conseguiu ao longo da última década se desvencilhar dos tradicionalismos e modelos de vendas antigos que se baseiam num padrão de comportamento do consumidor que já não é mais padrão.
Se observarmos nossos clientes se interessarem cada vez mais por educação financeira, jornadas simples e digitais, e marcas fortes e engajadas é exatamente para esse caminho que o mercado tem que caminhar.
Fernando Lamounier é diretor da Multimarcas Consórcios, formado em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com mestrado em Administração pela Yale University e mestrado em Gestão Internacional pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).