Em 2022, a educação encontra um grande desafio pela frente: como retomar o interesse dos estudantes pelo aprendizado e engajar os alunos na retomada escolar pós pandemia? A priori, fala-se sobre resgatar o desejo pelo conhecimento através de uma metodologia de ensino interdisciplinar.
Além disso, ressalta-se a importância do acolhimento e da empatia, voltando o olhar, principalmente, para as relações sociais e a saúde mental de alunos e professores.
As consequências desse período de ruptura com a realidade que vivíamos antes da pandemia trouxe danos e muitos deles só poderão ser mensurados a longo prazo.
Ainda, destaca-se a importância de resgatar os aprendizados que tivemos na pandemia, a fim de combinarmos as melhores práticas e de adotá-las ao nosso favor.
Se por um lado o isolamento impactou as relações sociais, o contato olho no olho entre aluno, professor e colegas de classe; por outro, vimos que é possível otimizar inúmeros processos, atividades e conteúdos no âmbito digital sem prejuízo em relação ao presencial – ao contrário, muitas vezes reduzindo espaço, tempo e custos.
Nessa perspectiva, a instituição “escola” se torna mais do que um ambiente para transmitir conhecimento e absorver aprendizado.
O espaço físico passa a ser um lugar de trocas sociais, ricas para o desenvolvimento de competências emocionais e culturais dos alunos, ou seja, um ambiente voltado ao desenvolvimento humano, que oferece uma atmosfera de estímulo ao aprendizado, ao debate, pensamento crítico, noções de cidadania, entre outros.
Por isso, trouxemos a visão de especialistas na área da educação, de instituições referências em metodologia de ensino, sobre as perspectivas para a educação em 2022 e seus potenciais desafios.
Monica Weinstein, VP de Pesquisa, Desenvolvimento e Impacto no Alicerce Educação
Em 2022, teremos um cenário com defasagens de aprendizagem com extensão ainda não totalmente compreendida.
A priori, existirão dois grandes desafios imediatos: o primeiro diz respeito à reintegração dos alunos do ensino básico à vida escolar.
Quer seja pela ressignificação do vínculo dos alunos com a aprendizagem, quer seja pela ampliação do repertório de aspirações educacionais e profissionais ao alcance deles, e o segundo desafio refere-se ao planejamento e à execução da recuperação das perdas de aprendizagem que ocorreram durante o período da pandemia do Covid-19.
É imperativo concentrar esforços na recuperação das habilidades básicas, oferecendo currículo e instrução que se adaptem ao nível de aprendizagem das crianças na reentrada na escola para evitar que elas fiquem com defasagens de longo prazo.
Em poucas palavras, a escola não poderá retomar suas atividades como de costume, virando a página sobre o hiato da interrupção causada pela pandemia, pois a retirada da sustentação que o sistema escolar representava na vida desses milhões de alunos durante os dois últimos anos terá deixado marcas complexas e duradouras, que apenas poderão ser mitigadas com a repactuação de novos vínculos de propósito de longo prazo, e com a resolução das defasagens dos conteúdos essenciais de alfabetização, letramento e numeramento.
Fernando Shayer, Fundador e CEO da Cloe, plataforma de aprendizagem ativa
A pandemia trouxe à tona uma série de questões importantes em relação ao aprendizado dos estudantes na era digital em que vivemos.
A primeira diz respeito ao enorme volume de conteúdos e aulas disponíveis on-line. Basta entrar no YouTube e digitar ‘aula de qualquer coisa’ e você encontrará instantaneamente inúmeras aulas.
São conteúdos muito engajadores, normalmente de curta duração, feitos muitas vezes por educadores e que retêm a nossa atenção imediatamente. Para quê gastar tempo e dinheiro na escola, se você tem tudo isso em casa, de graça? A sala de aula tem de oferecer mais do que isso.
A segunda diferença tem a ver com a pandemia e o lockdown. Nessa fase, a interação social é chave. Não ir à escola, nem ver ou brincar com os amigos, tem um efeito muito negativo no desenvolvimento cognitivo e emocional de uma criança.
A socialização dos jovens por meio digital cresceu de tal forma e por tanto tempo que a profundidade do vínculo entre os jovens e os smartphones, iPads e computadores, e o padrão de interação deles com o mundo externo tornou-se essencialmente ‘figital’ (físico + digital).
Na volta às aulas presenciais, isso se refletirá no engajamento dos alunos dentro da sala de aula. Uma experiência pedagógica que seja exclusivamente analógica e em que os professores deem palestras áridas de conteúdo e não estimulem os alunos a criar, se comunicar, interagir ou criticar, será muito prejudicial ao aprendizado.
O papel da escola na volta às aulas presenciais será esse: prover uma experiência de aprendizagem que vá além da repetição do conteúdo gratuito que está no YouTube, e usar a tecnologia a serviço do engajamento e do aprendizado.