O impacto da inteligência artificial (IA) no setor de seguros foi tema central do painel “Regulamentação de IA, segurança cibernética e combate à fraude”, realizado durante o Fórum França-Brasil de Seguros, em Paris.
O encontro reuniu legisladores, executivos e especialistas para discutir os desafios e as oportunidades da aplicação da Tecnologia em um setor altamente sensível à proteção de dados, à ética e à regulação.
O senador Eduardo Gomes (PL/TO), relator do Projeto de Lei 2338/2023 — que trata do marco legal da inteligência artificial no Brasil — apresentou um panorama legislativo sobre o tema.
Ele destacou a necessidade de uma regulação alinhada a padrões internacionais, mas adaptável ao ritmo acelerado da evolução tecnológica. “A discussão sobre inteligência artificial no Congresso Nacional nasce de uma necessidade global de regulação”, afirmou.
Segundo o parlamentar, o setor segurador tem papel relevante para a segurança dos cidadãos em um contexto de crescente uso da IA, ainda envolto em desconfiança por parte da população. O projeto busca integrar os avanços tecnológicos às estruturas regulatórias já existentes, como as do Banco Central.
Setor privado alerta para riscos e responsabilidades
Durante o debate, Richard Vinhosa, CEO da seguradora EZZE, chamou atenção para novos riscos associados ao uso da IA, como os deepfakes e sua influência na confiabilidade de informações.
Ele ressaltou que, além da tecnologia, o setor depende de responsabilidade ética e cooperação entre o setor público, privado e a sociedade civil. Para ele, o futuro dos seguros poderá incluir tanto a substituição de serviços tradicionais quanto o surgimento de novas modalidades específicas para o universo automatizado.
Vinhosa também destacou a importância de normas já existentes, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), e os desafios de sua aplicação diante da rápida evolução tecnológica.
Perspectiva europeia: inovação com limites éticos
Representando o setor segurador francês, Marie-Aude Thépaut, diretora-geral da CNP Assurances, destacou que a inteligência artificial pode ser uma ferramenta estratégica para o fortalecimento do setor.
Entre as principais aplicações, citou a prevenção de riscos, a melhoria no atendimento ao cliente e o reforço da conformidade regulatória.
Contudo, alertou para os perigos de uma personalização excessiva de ofertas e de uma regulação excessiva que possa inibir a inovação. Para ela, é necessário manter os princípios de transparência, equidade e controle humano como pilares da transformação digital nos seguros.
Modelos generativos e novo paradigma
O painel foi moderado por Arthur Ravier, consultor de políticas digitais na France Assureurs, que contextualizou o impacto recente dos modelos generativos de linguagem, como os LLMs, no setor.
Ele afirmou que essas tecnologias mudaram o cenário da IA ao torná-la acessível não apenas para empresas, mas também para consumidores e trabalhadores. “Essas promessas vêm acompanhadas de desafios que precisam ser enfrentados com responsabilidade”, disse.
Ravier ressaltou que, apesar de os sistemas de IA já estarem integrados à modelagem de riscos e à operação das seguradoras, o avanço dos modelos generativos impõe uma nova dimensão regulatória.
Cooperação internacional e futuro do setor
Apesar das diferenças nos marcos regulatórios entre Brasil e Europa, os participantes convergiram em uma avaliação comum: a IA representa uma transformação inevitável no setor de seguros.
Para que essa transformação seja sustentável, será necessário estabelecer diretrizes ancoradas em ética, supervisão humana, transparência e inclusão.
O Fórum França-Brasil de Seguros, promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) em parceria com a France Assureurs, marca um esforço conjunto para ampliar a cooperação internacional, fomentar soluções inovadoras e integrar o setor segurador aos projetos estratégicos de desenvolvimento, incluindo iniciativas voltadas à resiliência climática e à inclusão econômica.