A nova edição do estudo “Assuntos relevantes para comitês de auditoria”, produzido anualmente pela EY, aponta que inteligência artificial (IA), reforma tributária e cibersegurança serão os principais temas de atenção para os comitês de auditoria no fechamento das demonstrações financeiras de 2025 e na agenda corporativa de 2026.
Segundo o levantamento, esses comitês passam por transformações impulsionadas pelo avanço da IA — especialmente a generativa —, por mudanças tributárias e contábeis e pelo aumento dos riscos cibernéticos. A supervisão da chamada IA Responsável tem se tornado um pilar estratégico, com foco em transparência, confiabilidade e conformidade.
Impactos da IA nos riscos corporativos
Para Anderson Constantino, sócio de Auditoria da EY Brasil e coordenador da publicação, riscos emergentes relacionados à IA — como ataques maliciosos mais sofisticados, questões de propriedade intelectual, desinformação e incertezas regulatórias — podem afetar diretamente a competitividade das empresas. Nesse contexto, a adoção segura e estruturada da Tecnologia tende a ser determinante para a resiliência e sustentabilidade dos negócios.
Mudanças contábeis e o IFRS 18
No campo contábil, o IFRS 18 (CPC 51) introduz ajustes relevantes na apresentação das demonstrações financeiras, incluindo nova classificação de receitas e despesas em cinco categorias e exigências adicionais de divulgação de medidas de desempenho definidas pela administração. O pronunciamento também revisa critérios de agrupamento de informações, buscando maior transparência e comparabilidade.
Constantino recomenda que as empresas iniciem desde já a avaliação do impacto das mudanças em seus sistemas contábeis e controles internos.
Reforma Tributária: transição até 2032
A Reforma Tributária, que unifica cinco tributos para criar a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), também deve demandar atenção dos comitês. A transição gradual até 2032 exigirá controles mais robustos e monitoramento da gestão de créditos tributários. Entre as alterações estão a não cumulatividade dos novos tributos e a criação de um sistema digital unificado para apuração e pagamento.
Segundo Constantino, a integração entre áreas contábil, fiscal e comercial será fundamental para a adaptação das empresas ao novo modelo.
Outro elemento em discussão é o projeto de lei que cria o Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas Mínimo (IRPFM), que prevê tributação de dividendos acima de R$ 50 mil por mês e rendimentos anuais superiores a R$ 600 mil, além de retenção de 10% sobre lucros enviados ao exterior.
Comércio exterior e impacto das tarifas dos EUA
No cenário internacional, os Estados Unidos aplicam desde agosto de 2025 sobretaxas de até 50% sobre diversos produtos brasileiros, como café, cacau, carne e frutas, além de tarifas específicas sobre aço, alumínio, automóveis e medicamentos. As medidas seguem a política protecionista adotada pelo governo norte-americano desde o início de 2025.
Para mitigar os impactos, o governo brasileiro lançou iniciativas como o Programa Acredita Exportação e o Plano Brasil Soberano, que oferecem incentivos tributários, linhas de crédito emergenciais e fortalecimento do seguro de crédito à exportação. O BNDES deve atuar como agente financeiro com recursos estimados em R$ 30 bilhões.
Regras internacionais e o Pilar 2 da OCDE
A adesão às diretrizes da OCDE em Preços de Transferência e a implementação do Pilar 2 do projeto BEPS 2.0 obrigam grupos multinacionais com receita consolidada igual ou superior a € 750 milhões a avaliar suas alíquotas efetivas por jurisdição. Caso a tributação local seja inferior a 15%, poderá haver cobrança complementar.
Constantino destaca que o reconhecimento provisório do Brasil como QDMTT pela OCDE reduz o risco de dupla tributação.
Indústria financeira e novas regras para ativos
A Resolução nº 4.966/21 do Conselho Monetário Nacional, em vigor desde 2025, altera a classificação e mensuração de ativos financeiros. Embora alinhada ao padrão internacional IFRS 9, apresenta diferenças relevantes que exigem atenção das instituições financeiras.
Segundo o estudo, instituições devem revisar processos de precificação, sistemas legados, cálculos contábeis e controles de terceiros para garantir conformidade e continuidade operacional.
Crescente preocupação com cibersegurança
O aumento dos ataques cibernéticos também reforça a necessidade de políticas de segurança robustas, sobretudo no setor financeiro. Além de perdas financeiras, incidentes podem gerar impactos reputacionais e operacionais significativos.
Constantino ressalta que os comitês de auditoria devem priorizar a verificação de controles internos, capacitação das equipes e monitoramento constante de ameaças, garantindo ainda conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).




















