O Aeroporto de Heathrow, em Londres, enfrentou graves transtornos após um ataque cibernético ocorrido em 19 de setembro. O incidente, provocado por um ransomware direcionado ao sistema de check-in e embarque da Collins Aerospace, conhecido como vMUSE, causou longas filas, atrasos e o cancelamento de cerca de 20 voos.
Além dos problemas imediatos, os efeitos financeiros foram expressivos, afetando exportadores, importadores e operadores logísticos, que tiveram de arcar com custos emergenciais.
Cadeia logística afetada em múltiplos níveis
De acordo com o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o impacto de um ataque cibernético no transporte aéreo vai muito além das companhias aéreas.
“Os custos não se limitam às empresas aéreas. Eles se espalham por toda a cadeia logística, afetando transportadoras, operadores e fornecedores, que muitas vezes precisam arcar com despesas emergenciais, como depósito extra, aluguel de aviões e mudança de rota de cargas. No final, o consumidor paga mais caro pelo produto importado ou exportado”, explica.
Hackers miram dados e infraestrutura crítica
O perito internacional em segurança cibernética Wanderson Castilho destaca que o objetivo dos ataques não é apenas causar atrasos, mas atingir o núcleo operacional das empresas.
“Os principais alvos desses criminosos são os dados dos passageiros, reservas, pagamentos, sistemas operacionais — como check-in, displays de voo, etiquetas, comunicação via rádio — e a segurança da infraestrutura crítica. Isso compromete não apenas a privacidade das informações, mas também a continuidade das operações e a confiança dos usuários no setor aéreo”, afirma Castilho.
Portos também são alvos frequentes
No transporte marítimo, os impactos podem ser ainda mais severos. Um terminal parado por apenas um dia pode reter milhares de contêineres, gerando cobranças adicionais como demurrage, detention e taxas de depósito.
Um caso emblemático ocorreu em 2021, na África do Sul, quando um ataque de ransomware paralisou as operações da Transnet. O porto de Durban, responsável por mais de 60% do tráfego marítimo do país, ficou praticamente inoperante por vários dias, gerando perdas estimadas em 300 milhões de dólares em menos de uma semana.
“Além do impacto financeiro imediato, navios foram desviados, cargas perecíveis se perderam e os problemas logísticos duraram meses, com aumento de até 20% nos custos de embarques específicos”, destaca Campos.
Custo e anonimato impulsionam ataques
Castilho explica que o ransomware é amplamente utilizado devido à sua eficiência, baixo custo e dificuldade de rastreamento.
“Esse tipo de software malicioso é prático, barato e oferece menor risco de captura dos criminosos. Os danos, porém, podem ir muito além do financeiro, atingindo a integridade e segurança das pessoas”, analisa o especialista.
Falta de investimentos amplia riscos
A ausência de investimentos em segurança digital em portos e aeroportos é um dos principais fatores que tornam a infraestrutura logística vulnerável. Muitos sistemas operam com Tecnologia defasada, pouca integração e baixa capacidade de resposta diante de incidentes.
“Estes grandes pontos de tráfego de dados ainda sofrem com a falta de sistemas robustos de segurança cibernética. Também é necessário investir em treinamentos e simulações de ataques com hackers éticos, para identificar vulnerabilidades e corrigir falhas antes que sejam exploradas”, conclui Castilho.



















