A necessidade de informações confiáveis e consistentes para impulsionar a transição climática no mercado de capitais foi tema central de um painel realizado nesta terça-feira (18), na Casa do Seguro, durante a programação paralela da COP30. A avaliação é da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Importância dos dados na avaliação de riscos
Segundo Luiz Pires, gerente de Sustentabilidade e Inovação da Anbima, a organização e análise de dados climáticos são fundamentais para orientar investimentos e mensurar riscos.
“Trabalhar dados de forma estruturada é essencial para o direcionamento adequado dos recursos financeiros, pois permitem avaliar riscos potenciais que podem comprometer ou inviabilizar teses de investimento”, afirmou.
Durante o painel, Pires citou o Radar de Eventos Climáticos e Seguros no Brasil — publicação recente da CNseg que consolida dados históricos de catástrofes no país — como exemplo da importância de bases de informação robustas.
Ferramentas de monitoramento climático
O cientista Paulo Artaxo, membro do IPCC, destacou a plataforma Adapta Brasil, desenvolvida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A ferramenta apresenta cálculos de riscos de inundações, deslizamentos, vulnerabilidade urbana e exposição a eventos climáticos extremos, auxiliando o planejamento de adaptação em diferentes regiões do país.
Mercado tem capital, mas precisa avançar em precificação de riscos
De acordo com Pires, o avanço na transição climática não é limitado pela falta de recursos financeiros.
“O mercado de capitais brasileiro está na ordem de US$ 2 trilhões. Temos recursos para financiar a transição e um ecossistema de produtos de investimento. O que precisamos é usar as plataformas e informações disponíveis para precificar riscos climáticos e direcionar os recursos aos projetos sustentáveis”, afirmou.
Ele projeta que, entre 2026 e 2027, haverá expansão significativa dos investimentos sustentáveis, acompanhada pelo lançamento de novos produtos financeiros ligados à agenda ESG.
Setor de seguros também enfrenta desafios
Vinicius Brandi, subsecretário de Reformas Microeconômicas e Regulação Financeira do Ministério da Fazenda, afirmou que o setor de seguros precisa ampliar sua atuação rumo à sustentabilidade.
Segundo ele, o setor movimenta cerca de R$ 1,8 trilhão, equivalente a 15% a 20% do PIB, mas ainda está abaixo do padrão observado em economias desenvolvidas.
Brandi alertou que a adoção de práticas incompatíveis com as mudanças climáticas tende a elevar riscos e custos. “As estatísticas mostram que teremos eventos climáticos extremos com mais frequência”, disse.
Aumento das catástrofes e necessidade de adaptação
O cientista Paulo Artaxo reforçou que os custos associados a eventos extremos já crescem de forma significativa, especialmente para países de renda média e baixa.
O especialista destacou ainda a complexidade da adaptação no território brasileiro: “O Brasil, por sua localização tropical, é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas. Adaptar Belém do Pará e adaptar São Paulo são tarefas radicalmente diferentes”.
Capacitação e colaboração entre setores
Além da estruturação de dados, o avanço da transição climática passa pela capacitação de profissionais do mercado financeiro. Pires destacou iniciativas como a Jornada rumo à COP30, organizada por Anbima, CNseg e Febraban, com a proposta de preparar o setor para os desafios do financiamento climático.
Brandi reforçou que a cooperação é indispensável: “Não adianta o setor de seguros sozinho ter uma postura sustentável enquanto outros setores caminham no sentido oposto. A agenda climática depende da coordenação de todos”.
Chamado para ação
Encerrando o painel, Monica Zuleta, diretora corporativa de sustentabilidade da Mapfre, destacou a necessidade de atitudes imediatas.
“Falamos sempre de um futuro melhor, mas o futuro é agora. Cada um de nós deve atuar dentro de sua capacidade de influência”, afirmou.
Participação da Anbima na COP30
Na COP30, a Anbima participou de uma série de atividades, incluindo:
- realização do Fórum de Finanças Sustentáveis, em parceria com CNseg e Febraban;
- correalização do Investment COP com a World Climate Foundation;
- presença em debates no Pavilhão Brasil, nas Zonas Azul e Verde.



















