O ano de 2024 foi um marco decisivo para o mercado de criptomoedas, com destaque para o Bitcoin, que viveu uma transformação sem precedentes em sua trajetória.
Deixando para trás a visão de “dinheiro mágico da internet”, o Bitcoin consolidou-se como um ativo de investimento sólido e atraente, conquistando tanto investidores institucionais quanto o público varejista. Pela primeira vez, a criptomoeda superou a impressionante marca de US$100 mil, selando sua posição como uma reserva de valor legítima.
A ascensão do Bitcoin em 2024 não se limitou ao campo financeiro. O ano também foi marcado por avanços regulatórios significativos, o maior lançamento de ETFs de Bitcoin da história, o quarto halving e eventos políticos de impacto, como a eleição de Donald Trump. Esses fatores, combinados, criaram um cenário favorável para o crescimento e uma maior adoção do Bitcoin em escala global.
Clareza Regulatória e o Maior Lançamento de ETFs da História do Bitcoin
Nos últimos seis anos, a Bitwise conduziu pesquisas anuais para entender as perspectivas dos investidores sobre o mercado de criptomoedas. Um padrão consistente emergiu dessas pesquisas: a principal razão citada para a falta de investimentos no setor sempre foi a preocupação com questões regulatórias. No entanto, essa barreira, que perdurou por tanto tempo, começou a se dissolver em 2024. Um exemplo notável dessa mudança foi a aprovação dos ETFs de Bitcoin pela SEC em janeiro de 2024, um marco histórico para o mercado que representou uma mudança significativa na aceitação institucional do ativo.
Após mais de uma década de tentativas e rejeições, a aprovação permitiu que gestoras tradicionais como BlackRock, Fidelity e VanEck oferecessem exposição direta ao Bitcoin para investidores institucionais e de varejo através do mercado regulado de ações, superando barreiras técnicas e regulatórias que antes dificultavam o acesso ao ativo.
O lançamento dos ETFs foi marcado por um volume expressivo de negociações nos primeiros dias, especialmente com os ETFs da BlackRock (IBIT) e Fidelity (FBTC), que rapidamente ultrapassaram bilhões de dólares em ativos sob gestão. Esse sucesso inicial revelou uma forte demanda reprimida por produtos de investimento em Bitcoin regulamentados, especialmente entre investidores institucionais que antes evitavam as complexidades da custódia direta do ativo.
O impacto dessa mudança pode ser observado nos números. Os ETFs de Bitcoin à vista atraíram bilhões de dólares em investimentos nos primeiros meses de operação, impulsionando uma valorização do Bitcoin, que passou de cerca de US$45.000 na aprovação para aproximadamente US$75.000 nos meses seguintes, superando todas as expectativas.
Halving
O halving de 2024 foi o quarto da história do Bitcoin, e o valor das recompensas dos mineradores diminuiu de 6,25 BTC para 3,125 BTC. O halving do Bitcoin reafirma o funcionamento do protocolo conforme o planejado, reduzindo as recompensas por bloco minerado e desacelerando a emissão de novas moedas.
Esse processo também aproxima a oferta total do limite máximo de 21 milhões de moedas, de maneira previsível e transparente. O halving garante que o Bitcoin mantenha seu valor ao longo do tempo, evitando a desvalorização por meio da expansão excessiva da oferta. Ele está ligado à política monetária do Bitcoin, projetada para ter uma inflação programada e decrescente, simulando a escassez de recursos naturais, como o ouro.
Além de ser um mecanismo técnico, o corte da recompensa é um evento econômico fundamental que gera escassez digital, reforçando o valor intrínseco do Bitcoin. Esse processo torna o Bitcoin um “ouro digital”, com uma emissão previsível e em diminuição, como a extração e esgotamento de recursos valiosos. Historicamente, 18 meses após o halving, o Bitcoin tende a seguir uma trajetória de alta de preço, devido à redução da emissão de novas moedas e ao aumento da escassez.
À medida que o halving avança, a raridade do Bitcoin cresce, destacando suas propriedades deflacionárias e a visão de longo prazo de seus criadores para uma moeda descentralizada e limitada.
Portanto, o evento é um lembrete da escassez e da estrutura única do Bitcoin, oferecendo um estudo fascinante sobre como princípios econômicos tradicionais podem ser aplicados em novos paradigmas financeiros. Seu impacto nas flutuações do mercado e sua importância como marco na jornada do Bitcoin para maior adoção e reconhecimento são temas de grande interesse. Ele desafia as noções convencionais de dinheiro e valor na era digital, e seu papel continuará relevante, especialmente com o crescimento da adoção.
Eleição Americana
Donald Trump venceu as eleições presidenciais americanas de 2024 de forma expressiva contra Kamala Harris, obtendo vitórias em todos os estados-chave. Os republicanos também conquistaram a maioria no Senado e na Câmara, o que facilitará a aprovação de projetos nos próximos dois anos, até as eleições de meio de mandato.
A nova administração promete uma agenda de desregulamentação e incentivo ao livre mercado, com destaque para o ecossistema das criptomoedas. A equipe montada por Trump foi bem recebida pelo mercado, especialmente devido à forte conexão de muitos de seus membros com o setor.
Uma das principais mudanças já confirmadas é a saída de Gary Gensler da SEC, que teve uma postura hostil ao setor cripto devido à sua abordagem restritiva e falta de clareza regulatória. Durante sua gestão, diversas empresas e seus fundadores foram desbancarizados, o que refletiu uma visão política contrária ao ecossistema cripto. Com a chegada de Trump, a expectativa é que o Bitcoin e outras criptomoedas avancem.
A nomeação de Paul Atkins para comandar a SEC é um exemplo disso; ele é conhecido por ser favorável à inovação no setor e à desregulamentação das criptomoedas. Em 2018, Atkins afirmou que “Bitcoin é uma tecnologia revolucionária e seu potencial não deve ser sufocado por excesso de regulamentação”.
Uma das propostas mais impactantes da nova administração de Trump é a criação de uma Reserva Estratégica de Bitcoin, liderada pela senadora Cynthia Lummis por meio do “Bitcoin Act”. O plano visa adquirir 1 milhão de BTC nos próximos cinco anos, comprando 550 BTCs diariamente, além de incorporar os 198.109 BTCs apreendidos, que atualmente valem cerca de US$19,4 bilhões. A proposta prevê que esses bitcoins sejam mantidos por pelo menos 20 anos.
Essa mudança de postura, com os EUA adotando uma abordagem pró-Bitcoin, pode desencadear uma corrida entre países para acumular Bitcoin, semelhante à corrida do ouro no passado.
A simples possibilidade de uma reserva estratégica de Bitcoin já é suficiente para influenciar outros países a considerar o Bitcoin como uma reserva de valor, o que pode levar a uma significativa valorização do preço no médio prazo. Com a expectativa de um ambiente político e institucional mais favorável em 2025, o crescimento e a adoção do Bitcoin devem continuar a aumentar.
Um ano marcante para a moeda
O ano de 2024 foi marcante para o Bitcoin, com uma valorização superior a 129%, saindo de US$44.944 e ultrapassando os US$103.000.
Esse foi o ano em que o mercado tradicional reconheceu o Bitcoin como um ativo sério, e não apenas uma curiosidade. Isso se refletiu na aprovação de ETFs, na demanda pela MicroStrategy e suas notas conversíveis, e na crescente relevância do Bitcoin, até como tema nas campanhas eleitorais de Trump. A aprovação dos ETFs trouxe maior credibilidade e simplificou o acesso do capital institucional ao Bitcoin, resolvendo incertezas regulatórias e de custódia.
O ano de 2024 foi um divisor de águas para o Bitcoin e todo o ecossistema cripto. Com a superação da marca de US$100 mil, a aprovação histórica dos ETFs, o quarto halving e uma mudança favorável no cenário político com a eleição de Donald Trump, o Bitcoin solidificou sua posição como um ativo de investimento legítimo e um “ouro digital” na era moderna.
Esses avanços não apenas impulsionaram a valorização do Bitcoin, mas também trouxeram uma nova onda de confiança e aceitação institucional, pavimentando o caminho para um futuro mais promissor e estável. A expectativa para 2025 é de um ambiente ainda mais favorável para o crescimento e adoção do Bitcoin, com os Estados Unidos liderando a vanguarda da inovação e desregulamentação.
Sobre o Autor
*Caio Leta, PhD em Geologia, deixou a academia para se dedicar ao Bitcoin. Leta é o criador do projeto de educação Explica Bitcoin e autor do livro “O Mundo Mágico do Bitcoin”. Trabalhou com pesquisa na Arthur Mining e atualmente atua como head de Pesquisa e Conteúdo na Bipa, uma plataforma digital de vanguarda que integra Bitcoin, USDT e Real, proporcionando uma experiência financeira unificada.