A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê que a desaceleração do setor varejista continuará ao longo de 2025, em linha com um cenário macroeconômico restritivo.
Os resultados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de janeiro, divulgados pelo IBGE em 14 de março, reforçam essa tendência, apontando o descontrole fiscal do país como um fator-chave, com a elevação das taxas de juros afetando diretamente a atividade econômica e a performance do comércio.
Cenário Econômico Desafiador para o Varejo
José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, afirmou que o varejo está vivenciando um período de ajustes. “Precisamos encontrar formas de crescer a atividade econômica sem comprometer a estabilidade fiscal”, destacou Tadros, sublinhando os desafios que o setor enfrenta.
Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, observou que a perda de fôlego do comércio era uma expectativa, uma vez que o ajuste da economia está sendo realizado por meio de uma agenda recessiva, em vez de políticas econômicas adequadas aos desafios do país.
“A inflação, pressionada pelo descontrole fiscal, continua sendo o principal obstáculo para a recuperação das vendas. Enquanto as taxas de juros permanecerem elevadas, o consumo ficará restrito, principalmente em setores que dependem de financiamento”, afirmou Tavares.
Desempenho do Varejo em Janeiro
Os dados de janeiro revelaram um enfraquecimento no setor. O varejo restrito registrou a terceira queda consecutiva na comparação mensal, com recuo de 0,1%. Por outro lado, o varejo ampliado apresentou crescimento de 2,3%, superando as projeções de 1,2%.
Inicialmente, a CNC esperava um crescimento de 1% para o varejo ampliado em dezembro, mas ajustou suas expectativas para os próximos meses devido ao desempenho observado em janeiro. A previsão para fevereiro indica um modesto crescimento de 0,1% na série ajustada sazonalmente.
O esfriamento do consumo reflete as condições econômicas menos favoráveis ao mercado, como as taxas de juros elevadas, que restringem o crédito, e a necessidade de ajustes fiscais que impulsionaram o setor em 2024 de forma temporária.
Setores em Destaque
A análise dos dados da PMC revela que, no varejo restrito, quatro setores registraram queda, enquanto outros quatro apresentaram crescimento. O setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos teve a maior retração, de 3,4%, embora ainda acumule alta de 14,1% nos últimos 12 meses.
O segmento de hipermercados e supermercados também sofreu uma queda de 0,4%, impactado pela inflação dos alimentos.
Entre os setores em crescimento, o de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação registrou uma alta de 5,3%, recuperando parte da queda de 5,9% registrada em dezembro. Esse movimento foi impulsionado pela valorização do real frente ao dólar.
Perspectivas para os Próximos Meses
João Vitor Gonçalves, economista da CNC, afirmou que a queda no varejo já era esperada devido ao cenário econômico atual. No entanto, ele enfatizou a importância de observar os próximos meses para avaliar se o setor terá uma reação positiva no segundo semestre, à medida que a política fiscal seja ajustada, aliviando a pressão sobre a inflação e diminuindo o impacto da política monetária.
Em resumo, o varejo brasileiro enfrenta desafios significativos devido ao atual cenário econômico. Embora o crescimento de alguns setores seja observado, a tendência geral é de desaceleração, e as perspectivas de recuperação dependem de um ajuste fiscal eficaz e de um controle mais rígido da inflação.