Os Estados Unidos enviarão três navios destróieres de mísseis guiados do sistema “U.S. Aegis” para a costa da Venezuela nas próximas 36 horas, segundo duas fontes com conhecimento direto da operação e divulgado pela CNN Brasil.
O objetivo é reforçar as ações contra cartéis de drogas latino-americanos, classificados pela administração Trump como organizações terroristas globais.
As embarcações identificadas são o USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson. No total, cerca de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais estarão envolvidos na operação, de acordo com um oficial dos EUA ouvido pela Reuters sob anonimato.
O plano inclui ainda o deslocamento de aeronaves de vigilância P-8, navios de apoio e pelo menos um submarino de ataque para atuar na região sul do Caribe. As operações devem ocorrer em águas e espaço aéreo internacionais, com potencial para servir de plataforma de ataques direcionados caso seja tomada uma decisão nesse sentido.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro reagiu em discurso na segunda-feira (18), afirmando que a Venezuela “defenderá nossos mares, nossos céus e nossas terras”, em referência ao que chamou de “ameaça estranha e bizarra de um império em declínio”.
A medida se insere no esforço da administração Trump de intensificar a repressão a cartéis e gangues na América Latina, como parte de uma estratégia mais ampla de segurança de fronteira e combate à imigração ilegal. Recentemente, os EUA já haviam designado organizações como o Cartel de Sinaloa (México) e o grupo criminoso Tren de Aragua (Venezuela) como terroristas globais.
Brasil em alerta
Movimentação de um navio de guerra norte-americano rumo à Venezuela reacendeu tensões diplomáticas na região. Especialistas apontam que a aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolás Maduro gera preocupações adicionais sobre o posicionamento do Brasil em meio à escalada da crise.
Para analistas internacionais, o gesto de Washington não é apenas militar — mas também um recado político, que pressiona governos da América Latina a reverem suas alianças.
No caso brasileiro, a relação estratégica entre Lula e Maduro pode colocar o país em uma posição delicada, exigindo equilíbrio entre interesses econômicos regionais e a pressão diplomática dos EUA.
Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (20), o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, alertou sobre os riscos da escalada militar promovida pelos Estados Unidos em áreas próximas à Venezuela.
Ex-ministro das Relações Exteriores nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, Amorim reafirmou a posição do governo brasileiro de rejeição a qualquer tipo de intervenção estrangeira.
“Vejo com preocupação o deslocamento de barcos de guerra americanos para a Venezuela. Acho que a não intervenção é fundamental”, disse o diplomata, segundo reportagem de O Globo.
Contexto diplomático
Amorim recordou que o Brasil não reconheceu formalmente a reeleição de Nicolás Maduro, realizada há cerca de um ano, diante da ausência de provas contra o opositor Edmundo González. Ainda assim, defendeu a manutenção do diálogo institucional, ressaltando que “ter boas relações não é uma escolha, e sim uma imposição da geografia”.
O diplomata destacou que, mesmo em situações de divergência política, o Brasil opta por manter o canal diplomático aberto com Caracas, dado que os dois países compartilham mais de 2 mil quilômetros de fronteira.
Relações Brasil–EUA em tensão
A posição cautelosa do Palácio do Planalto ocorre em meio a uma série de atritos recentes entre Brasília e Washington:
- Tarifas de 50% aplicadas pelos EUA sobre produtos brasileiros;
- Sanções financeiras contra autoridades nacionais;
- Críticas do governo Trump ao Judiciário brasileiro pela condução de processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).