O Agronegócio brasileiro atravessa um dos períodos mais delicados de sua história recente, marcado por um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial e por dificuldades enfrentadas principalmente por pequenos e médios produtores.
O cenário combina juros elevados, margens de lucro cada vez mais estreitas e perdas significativas provocadas por eventos climáticos extremos, evidenciando a vulnerabilidade estrutural de um setor que, durante anos, sustentou-se em condições mais favoráveis.
Especialistas avaliam que a atual crise resulta de uma “tempestade perfeita”. A fase de crescimento e bons resultados observada nos últimos anos levou muitos produtores a expandirem suas operações sem considerar plenamente os riscos. Com o abalo simultâneo de pilares como crédito, preços e clima, a instabilidade tornou-se inevitável.
Seguros como ferramenta de proteção
Nesse contexto, cresce a discussão sobre o papel do seguro agrícola como mecanismo de proteção essencial para a sustentabilidade do setor.
Embora ainda seja tratado por parte dos produtores como custo adicional, especialistas defendem que ele deve ser considerado um componente estratégico do planejamento, ao lado de insumos e análise de solo.
De acordo com dados do mercado, a procura por seguros que cobrem perdas de produtividade apresentou leve retração, reflexo do aumento dos custos em algumas regiões, da redução das margens e da limitação de recursos destinados ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), considerado fundamental para apoiar os produtores. Apesar disso, o faturamento total das apólices agrícolas cresceu 8,3% no último ano.
Impactos regionais e aumento da sinistralidade
O primeiro semestre de 2024 trouxe exemplos claros da gravidade da situação. Na região Sul, por exemplo, a sinistralidade registrada entre produtores rurais subiu 50% em relação ao mesmo período de 2023.
O aumento esteve diretamente ligado à intensificação dos eventos climáticos extremos, sobretudo enchentes, que provocaram grandes perdas.
Os efeitos da crise vão além dos números econômicos e atingem diretamente a vida dos agricultores e suas famílias. Dados recentes apontam que os pedidos de recuperação judicial por produtores pessoa física aumentaram 84% no período, revelando o impacto social da instabilidade no campo.
Desafios e perspectivas
A busca por previsibilidade financeira e a necessidade de mecanismos de proteção ganham destaque nesse cenário. Especialistas defendem que o seguro agrícola deve ser encarado como instrumento fundamental não apenas para proteger o investimento do produtor, mas também para dar segurança ao crédito rural e reduzir riscos no financiamento das safras.
O momento, afirmam analistas, exige planejamento estratégico. Antes do início do plantio, é recomendada a avaliação de riscos, custos e perfil de cada produtor para adoção de soluções adequadas de proteção.
A aposta exclusiva na sorte, ressaltam, já não se mostra suficiente diante de um cenário marcado por incertezas climáticas e econômicas.