O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza nesta quarta-feira (6) à decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, classificando a medida como autoritária e sem fundamento econômico. Segundo o presidente, a nova rodada de sanções revela uma escalada política motivada por interesses pessoais de Donald Trump, e não por critérios comerciais.
“Minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, declarou Lula em entrevista à agência Reuters, ao ser questionado sobre a possibilidade de uma ligação direta a Trump para tentar aliviar as tensões. “Um presidente não pode se humilhar por outro presidente. Respeito a todos e exijo respeito por mim mesmo”, completou.
Lula também apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, têm responsabilidade direta pelas sanções americanas. “Não há precedente na história para um presidente e seu filho se voltarem contra o próprio país ao ponto de influenciar outro governo a impor sanções. Eles devem ser julgados por isso.”
A crise marca o ponto mais baixo das relações entre Brasil e Estados Unidos nos últimos anos. Trump, que mantém apoio explícito a Bolsonaro, teria usado sua influência política para retaliar o governo Lula como resposta ao julgamento do ex-presidente brasileiro, acusado de tentar subverter o processo democrático em janeiro de 2023.
Além das tarifas, Trump tem feito críticas abertas ao Supremo Tribunal Federal, especificamente ao ministro Alexandre de Moraes, que conduz o caso contra Bolsonaro. O Departamento de Estado dos EUA chegou a aplicar sanções diplomáticas contra Moraes, alegando supostas violações de direitos humanos — uma medida sem precedentes nas relações bilaterais.
Apesar do cenário hostil, negociadores brasileiros conseguiram, ao longo da semana, excluir cerca de 700 produtos da lista de sobretaxas, incluindo itens estratégicos como petróleo, aeronaves e celulose. Em contrapartida, o ministro da Economia, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil está disposto a oferecer acesso preferencial a minerais críticos e terras raras em troca de alívio tarifário.
Ainda assim, não há previsão de diálogo direto entre Lula e Trump. “Nas cartas que ele me enviou, não há menção a negociação — só ameaças”, afirmou Lula a uma emissora brasileira. “Quando quiser conversar, eu converso. Mas não aceito imposição. Não aceito que um país, por maior que seja, dite as regras sobre um país soberano como o Brasil.”
Para mitigar os impactos econômicos, o governo brasileiro estuda um plano emergencial de apoio a empresas afetadas pelas tarifas. Lula destacou que não pretende retaliar com novas tarifas contra produtos norte-americanos, pelo menos neste momento. “Quero mostrar que, quando um não quer brigar, dois não brigam. E eu não quero brigar com os Estados Unidos.”