No momento em que as atenções do mundo e do mercado financeiro internacional estão voltadas para o desmatamento na Amazônia e para o fogo no Pantanal, surge em Roraima um modelo econômico virtuoso, que permite alavancar o reflorestamento em grande escala, com alta lucratividade para todos os agentes envolvidos – produtor, investidor e empresa fomentadora.
Trata-se do plano de negócios do consórcio iPlantForest, que prevê um custo de produção de R﹩ 26 mil por hectare reflorestado em 18 anos e retorno de R﹩ 378 mil/ha, somente com a exploração sustentável de madeira exótica. O payback se dá em sete anos com TIR (Taxa Interna de Retorno) de 23%.
A boa notícia para o meio ambiente é que o projeto do iPlantForest utiliza tecnologia de ponta com sistemas de “Industria 4.0/Smart Agriculture” para criar uma verdadeira “indústria de reflorestamento”. Com plantio acelerado e distribuição planejada de espécies, a exploração sustentável gera – e mantém – profissões no campo e também riqueza para o dono da terra e investidores.
De acordo com Eduardo Guimarães, um dos conselheiros da AgTech, a solução é concorrente do desmatamento. “Criamos condições de quebrar a curva da extração ilegal de madeira da floresta nativa se conseguirmos produzir mais madeira do que se extrai, de forma oficial e certificada. Produzir florestas custa muito dinheiro, por isso precisamos desenvolver uma indústria sustentável para competir com esse madeireiro que desmata de forma ilegal”, explica.
Como funciona
O iPlantForest elabora o Projeto de Recuperação de Área Degradada (PRAD), que deve ser apresentado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Este propõe o plantio de 50% de mudas nativas da região, que se destinarão à exploração de frutas, sementes, óleos, produtos químicos e medicinais, e 50% de exóticas, para corte de madeira ao longo dos anos, seguindo o Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS).
Além de elaborar e aprovar os projetos, o iPlantForest também está apto a fazer a produção de mudas, o preparo da terra, o plantio, o manejo da floresta, a exploração e até o corte. O lucro com a venda de madeira será dividido entre o dono da terra, o consórcio e uma parte considerável reinvestido em mais reflorestamento. “Nossos estudos de viabilidade econômica provaram que o lucro recebido, apenas com a venda de exóticas, é capaz de multiplicar por cinco a área recuperada, a partir do primeiro investimento por hectare”, explica Marcello Guimarães, presidente do conselho do iPlantForest.
O modelo desta AgTech, além de autossustentável, se exponencializa, criando uma indústria virtuosa e duradoura e os aportes iniciais poderão vir de empresas privadas, fundos de investimentos e governos.
“Sempre que os recursos para a recuperação de áreas desmatadas vierem de governos, o consórcio entregará, em contrapartida ao financiamento, todos os créditos de reposição florestal gerados pelo plantio dessas florestas”, afirma Marcello.
Tecnologia
Marcello e Eduardo Guimarães são irmãos e os desenvolvedores das tecnologias responsáveis pelo plantio acelerado e planejado. Sua máquina de plantar florestas (RCCM – Real Carbon Capture Machine – versão 3.0) é a grande vedete de um sistema que inclui inteligência artificial, geoprocessamento, acelerômetro, giroscópio, software para controle de todos os implementos, entre outros recursos internos.
A máquina faz cinco operações em uma única passagem de trator: subsola, aduba, escarifica, prepara o sulco para receber a muda e faz o plantio. Durante o processo, câmeras acopladas filmam cada muda, identificando-a, registrando sua posição de GPS e verificando, em tempo real, se foi plantada corretamente – se não foi, o sistema gera um relatório e um alerta para que o problema seja solucionado.
A plantadora de florestas tem capacidade para operar, a uma velocidade que varia entre 4 km/h a 8 km/h, percorrendo, em 20 horas, uma distância de até 160 km. Com espaçamento de 6 metros entre as linhas de plantio, um dia inteiro de trabalho poderia resultar em algo em torno de 48 a 96 hectares plantados, utilizando 4 equipes de 3 pessoas cada. “Em um dia de trabalho, cada máquina pode plantar de 53 a 80 mil mudas com apenas 12 pessoas”, observa Marcello.
A máquina pode plantar o ano todo, inclusive em época de chuvas, já que possui um sistema autolimpante do “braço de plantio” – evita que a lama impeça o plantio ou prenda a muda.
Solução para o mundo
Para dar a dimensão do quão inovador é o projeto do iPlantForest, convém lembrar o Acordo de Paris, que prevê a recuperação de 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030. Pelos métodos usados nas maiores empresas do setor florestal mundial, que chegam a plantar 200 mil hectares por ano, demoraria 60 anos para atingir esta meta. Utilizando a RCCM (Máquina de Plantar Florestas), a meta seria atingida dentro do prazo com o trabalho de aproximadamente 100 máquinas, plantando uma média de 48 ha/dia.
“Em dez anos é possível cumprir o acordo de Paris. Podemos plantar também os 12 milhões de hectares queimados na Austrália e reflorestar nesta velocidade em qualquer lugar do mundo”, garante Marcello. Para ele, isso é inédito no setor florestal mundial. “Ninguém planta tantos hectares, nem tantas mudas com tão pouca gente. Por isso, podemos dizer que temos a solução para o reflorestamento em escala global, mais eficiente e veloz do que o plantio de eucalipto que existe atualmente”, conclui.