Em um país onde cerca de 57% da população ainda enfrenta dificuldades para acessar internet de qualidade, iniciativas que buscam ampliar a inclusão financeira e digital se tornam cada vez mais relevantes.
É nesse contexto que um projeto-piloto de pagamento offline foi testado no município de São Sebastião da Boa Vista, no estado do Pará, no início de abril de 2025.
A ação foi conduzida pela empresa brasileira de Tecnologia de pagamentos Elo, em parceria com a Caixa Econômica Federal e a IDEMIA Secure Transactions.
O teste foi realizado a bordo da Agência-Barco da Caixa, que presta serviços financeiros de forma itinerante a comunidades ribeirinhas na região amazônica, onde o acesso à internet e a instituições bancárias é precário.
Contexto de conectividade limitada
Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), apenas 54% da população de São Sebastião da Boa Vista conta com cobertura de internet — realidade comum em diversas áreas rurais e isoladas do país.
A cidade é conhecida por sua geografia fluvial e pela presença de palafitas, estruturas construídas sobre os rios, características da Ilha de Marajó.
Com acesso restrito à conectividade, o projeto busca viabilizar transações financeiras mesmo na ausência de sinal de internet, usando tecnologia baseada em blockchain. A proposta permite que pagamentos sejam realizados de forma segura e eficiente por meio de dispositivos móveis, mesmo em regiões desconectadas da rede.
Pagamento offline e segurança digital
A inovação central do projeto é o uso de carteiras digitais que armazenam as chaves criptografadas dos usuários e permitem a realização de transações com moeda digital tokenizada. A infraestrutura descentralizada em blockchain garante a integridade, segurança e inviolabilidade das transações, mesmo fora do ambiente online.
As transações podem ser realizadas por meio de aproximação (NFC), QR Code ou cartões biométricos, ampliando as possibilidades de pagamento em diferentes pontos de venda. A tecnologia foi desenhada para funcionar tanto online quanto offline, adaptando-se às condições locais de conectividade.
“O objetivo é oferecer soluções que ampliem a inclusão financeira e permitam transações em qualquer território do país, respeitando as especificidades regionais e os desafios de infraestrutura”, destacou Rafael Dias Silva, superintendente nacional de Administração Financeira da Caixa.
Inclusão financeira em regiões vulneráveis
A iniciativa tem como foco principal atender populações em situação de vulnerabilidade econômica e com acesso limitado a serviços bancários tradicionais.
A Agência-Barco da Caixa, por exemplo, oferece periodicamente serviços similares aos de uma agência física, com exceção da movimentação de dinheiro em espécie.
Para Marcelo Viana Paris, superintendente nacional de Benefícios Sociais da Caixa, o projeto demonstra o potencial da tecnologia em promover inclusão social. “Estamos comprometidos em oferecer soluções que melhorem a vida das pessoas, independentemente de onde estejam”, afirmou.
Lições da experiência
O piloto em São Sebastião da Boa Vista permitiu testar a viabilidade técnica da solução e compreender melhor a realidade dos usuários em regiões isoladas. Segundo Eduardo Merighi, vice-presidente de Tecnologia e Soluções da Elo, a operação trouxe aprendizados valiosos sobre como aplicar tecnologia em cenários de simplicidade extrema.
“A inovação não se limita a grandes centros urbanos ou a ambientes hiperconectados. O desafio é criar soluções acessíveis e funcionais em qualquer contexto, mesmo onde a infraestrutura digital é escassa”, concluiu Merighi.