A popularização da biometria como ferramenta de autenticação digital no Brasil tem avançado de forma expressiva nos últimos anos.
Segundo levantamentos recentes, 82% da população já utiliza alguma Tecnologia biométrica — como reconhecimento facial ou impressão digital — em atividades cotidianas, especialmente no acesso a bancos, aplicativos de pagamento e serviços públicos. No entanto, o aumento da adesão tem sido acompanhado por uma escalada igualmente acelerada de fraudes, colocando em xeque a eficácia e a segurança desses sistemas.
Fraudes digitais crescem em ritmo alarmante
Em janeiro de 2025, o Brasil registrou 1,24 milhão de tentativas de fraude, um aumento de 41,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior, o que equivale a uma tentativa a cada 2,2 segundos.
De acordo com a Serasa Experian, mais da metade dessas ações criminosas (53,4%) foi direcionada ao setor bancário e de cartões. O prejuízo potencial evitado pelas instituições financeiras é estimado em R$ 51,6 bilhões.
Os dados indicam uma tendência clara: os golpistas estão atualizando seus métodos com rapidez. Em 2024, 50,7% dos brasileiros afirmaram ter sido vítimas de fraudes digitais — 9 pontos percentuais a mais que em 2023 — e mais da metade deles sofreu perdas financeiras diretas. A incidência de crimes cibernéticos cresceu 45% no país, sendo que cerca de 50% das vítimas foram efetivamente lesadas.
Táticas criativas contornam barreiras biométricas
Casos recentes mostram que as quadrilhas têm se especializado em fraudes envolvendo biometria. Em Santa Catarina, criminosos usaram selfies e documentos coletados por um falso vendedor de operadora de telefonia para abrir contas bancárias e contratar empréstimos em nome de terceiros.
Em Minas Gerais, golpistas se disfarçaram de entregadores dos Correios para capturar impressões digitais e imagens faciais de moradores.
Técnicas como o “dedo de silicone” — no qual criminosos utilizam películas para coletar digitais em caixas eletrônicos e criar moldes falsos — ainda representam risco, embora bancos relatem o uso de sensores capazes de detectar sinais vitais como calor e pulsação.
Outro método que preocupa especialistas é o uso da engenharia social: fraudadores se passam por representantes de instituições, como bancos ou o INSS, e solicitam “selfies de confirmação” para atualização de cadastro.
As imagens, na verdade, são usadas para acessar sistemas de verificação facial em nome da vítima.
Deepfakes e inteligência artificial ampliam a ameaça
A ameaça tecnológica mais sofisticada hoje envolve o uso de deepfakes — imagens, vídeos e vozes manipulados por inteligência artificial (IA) para simular outra identidade.
Em maio de 2025, a Polícia Federal deflagrou a operação “Face Off”, que desmantelou um esquema de fraude no portal Gov.br. O grupo criminoso utilizava vídeos adulterados por IA, máscaras hiper-realistas e animações faciais para enganar o sistema de reconhecimento facial da plataforma. Estima-se que cerca de 3 mil contas tenham sido invadidas.
Outra operação, batizada de “DeGenerative AI” e realizada pela Polícia Civil do Distrito Federal em outubro de 2024, desarticulou uma quadrilha que usava dados pessoais vazados e deepfakes para invadir contas bancárias digitais. Foram mais de 550 tentativas de invasão, e o grupo teria movimentado cerca de R$ 110 milhões antes de ser identificado por auditorias internas.
Especialistas defendem autenticação multifator
A escalada das fraudes expõe os limites da biometria como método único de autenticação. Embora mais segura do que senhas tradicionais, a biometria pode ser vulnerável quando usada isoladamente. Por isso, especialistas recomendam abordagens multicamadas de segurança.
A autenticação multifator — que combina biometria com PINs temporários, tokens, ou análise de comportamento do usuário — tem se mostrado mais eficaz.
A chamada biometria comportamental, por exemplo, analisa padrões de digitação, movimentação do dispositivo e uso habitual, podendo detectar desvios no comportamento que indicam fraude.
Ferramentas de inteligência artificial também estão sendo empregadas para combater o uso de deepfakes. Algoritmos avançados analisam padrões de frequência de voz e distorções visuais em imagens para identificar falsificações digitais.
Segurança digital exige vigilância contínua
O avanço das fraudes digitais no Brasil evidencia que a segurança cibernética precisa acompanhar o ritmo da inovação criminosa. A biometria, embora crucial, não é suficiente sozinha para conter o problema.
O ambiente atual exige soluções mais complexas, combinando tecnologia de ponta, conscientização dos usuários e sistemas de detecção proativos.
Para as instituições financeiras, a lição é clara: proteger os clientes na era da inteligência artificial maliciosa requer um esforço constante de atualização, integração de tecnologias e reforço dos protocolos de segurança.