Nesta quarta (6), o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central anuncia a decisão sobre a nova taxa Selic. O mercado está com a expectativa de um aumento de 0,50 pp nos juros nesta reunião, levando a taxa a 11,25% ao ano, além de mais uma alta até o fim do ano.
Nicolas Gass, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, acredita que os juros devem também continuar subindo no começo do ano que vem e que o patamar de alta vai depender muito do que vai acontecer com o fiscal do Brasil. “Vamos ter um pacote de medidas, de corte de despesas ali e tudo vai depender de quão alto ou baixo será esse corte. Isso pode vir a mexer até na dinâmica de decisão de juros da reunião de dezembro também”, afirma Gass.
Para Cassiana Garcia, planejadora financeira e sócia da The Hill Capital, a preocupação do mercado com o cenário fiscal é recorrente e a demora do governo em reduzir o corte de gastos preocupa muito.
“Enquanto não houver uma comunicação clara do atual presidente Lula com o ministro Haddad em uma demonstração real de responsabilidade de corte de custos, fica complicado. Se esse pacote não for aprovado por Lula, a gente vai continuar patinando por mais dois anos até o fim do mandato. Agora, se ele aprovar e tivermos essa percepção de que há responsabilidade com os gastos do governo, isso vai reverberar muito bem. A chave vira de uma forma muito mais rápida”, explica.
Octávio Gomes, sócio da AVG Capital, lembra que o mercado já precifica uma SELIC acima de 13% ainda para o próximo ano. E, com isso, já é esperado um cenário favorável para a renda fixa.
“Tendo isso em mente podemos aproveitar títulos atrelados ao CDI, principalmente os pós-fixados que irão acompanhar e refletir os aumentos nas próximas reuniões do COPOM. Por mais que para a economia como um todo, esse nível de taxa seja desfavorável, para o investidor acaba sendo uma oportunidade de conseguir rendimentos próximos ou acima de 1% ao mês com o mínimo de risco”, diz.
Ele esclarece também que os papeis de crédito bancário atendem bem à essa expectativa da rentabilidade de 1% ao mês para o perfil mais conservador de investidores, estando dentro dos limites de FGC.
“Para pessoa física, temos os papeis isentos LCI e LCA, principalmente no pós-fixado, ou CDBs que também têm refletido a alta nas taxas. Em se tratando de prazo acredito que até 2 anos seja o ideal, pois com novas eleições e possibilidade de troca de governo não acredito ser indicado estender muito o prazo dos papéis”, diz Gomes.
Oswaldo Meireles, planejador financeiro CFP e sócio da Eu me banco, acredita que a escolha em relação aos investimentos nesse cenário vai depender muito do perfil do investidor. “Os títulos prefixados têm o benefício de saber exatamente quanto de rentabilidade se terá no vencimento, porém podemos observar um cenário de inflação mais pressionada pela desvalorização do real, o que pode elevar ainda mais as taxas prefixadas fazendo com que o valor de mercado dos títulos caiam, ou seja, caso sejam vendidos antes do vencimento, podem resultar em perdas.
Já títulos IPCA+, além da taxa pré, também tem a inflação, que é a parte pós-fixada do papel. Em um cenário de inflação em alta podemos ver uma marcação negativa na parte pré, porém a parte de inflação terá uma alta, visto que é uma taxa pós fixada“, explica. Para ele, em resumo, tanto os ativos IPCA+ como os prefixados têm seus riscos de acordo com o vencimento do título: “Quanto mais longo, mais arriscado. A melhor alocação vai depender muito do perfil de risco e objetivos de cada investidor”.
Andressa Bergamo, sócia-fundadora a AVG Capital, ressalta a importância de se atentar aos prazos de investimentos. “Para o investidor que considera alocar em títulos no portfólio, o vencimento é um aspecto importante a ser analisado. Títulos de vencimento mais longo, embora ofereçam prêmios maiores, são mais sensíveis às variações de taxa de juros, o que pode gerar volatilidade de preço.
Assim, se o investidor tem um horizonte de longo prazo e pode tolerar essa volatilidade, os títulos com prazos mais estendidos podem ser interessantes pela possibilidade de uma rentabilidade real mais elevada. Já os títulos de vencimento mais curto são menos sensíveis a essa volatilidade, sendo opções mais conservadoras“, aconselha.
Já a bolsa tende a ser penalizada, segundo Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais: “A taxa de desconto do valuation aumenta, tirando “valor” das empresas. Além disso, juros altos são menos favoráveis para setores que dependem de um bom momento da economia e do crédito, que acaba ficando mais caro, além das empresas endividadas que passam a ter um custo de dívida maior também, o que impacta a sua avaliação”.
De acordo com Alves, o momento pede cautela e muito estudo, além de diversificação no portfólio. “A melhor amiga do investidor em cenários de incerteza como o de agora é a liquidez, afinal ‘caixa é rei’ e isso vale na renda fixa, e principalmente, para a Bolsa de Valores. Oportunidades devem aparecer com o mercado precificando para baixo muitas ações, mas só vai aproveitar quem tiver caixa disponível“, diz. Nesse cenário ainda, para o especialista, os ativos pós-fixados atrelados ao CDI acabam sendo uma boa opção para acompanhar esse ciclo de alta de juros.