A Taxa das blusinhas, introduzida pela Medida Provisória nº 1.236, está impactando diretamente nas vendas das principais varejistas chinesas e no comportamento de compra online dos consumidores brasileiros, transformando o mercado de fast fashion. A Shein, por exemplo, que liderou as compras digitais no Brasil durante seis dos sete meses anteriores à aplicação da taxa, viu seu valor total de vendas cair 40% em agosto, mês em que a nova regra começou a vigorar.
Oscilações mês a mês são comuns no varejo, mas o impacto foi evidente quando comparado ao desempenho dos concorrentes nacionais, que registraram uma queda mais moderada de 14% no mesmo período. Em setembro, a varejista chinesa continuou em declínio, com uma queda adicional de 15%, enquanto os concorrentes locais, cresceram 5%.
Os dados são de um estudo realizado pela fintech klavi, a partir da análise de dados bancários de uma amostra ajustada ao perfil demográfico brasileiro composta por 122.754 pessoas, de forma consentida e transparente através do Open Finance. O levantamento apresenta insights que destacam as mudanças causadas pela taxação de bens de até US$50, especialmente no desempenho de varejistas internacionais.
O estudo também aponta que o número de pessoas que consomem na Shein caiu em um terço no terceiro trimestre de 2024, sugerindo que a nova taxação afetou principalmente a base de usuários. O ticket médio da Shein sofreu uma leve redução de 8%, mas o principal fator foi a perda de clientes recorrentes. Em comparação, grandes varejistas nacionais do setor de fast fashion registraram uma redução de apenas 6% em sua base de consumidores.
Comportamento sazonal
A pesquisa também destacou o comportamento sazonal de consumo. Em dezembro de 2023, tradicionalmente um mês de menor desempenho para a Shein devido a atrasos nas entregas internacionais, a queda foi de 32%, enquanto os concorrentes locais registraram um aumento expressivo de 84%.
“A Taxa das Blusinhas trouxe um impacto significativo na dinâmica do comércio eletrônico brasileiro, especialmente para varejistas internacionais que dependem de remessas de baixo valor. Nosso levantamento mostra como os consumidores estão adaptando seu comportamento em resposta à taxação, favorecendo alternativas nacionais em um cenário de maior conscientização sobre custos e prazos. Essa transformação reflete não apenas mudanças econômicas, mas também a oportunidade para o mercado local se reposicionar e ganhar competitividade”, comenta Bruno Chan, CEO e cofundador da klavi.
Já segundo dados divulgados pela Receita Federal, em apenas três meses, o governo arrecadou R$ 533 milhões com o imposto popularmente conhecido como “taxação das blusinhas”. Para efeito de comparação, nos três meses anteriores, a arrecadação com o imposto de importação sobre produtos de valor inferior a US$ 50 foi de apenas R$ 25,4 milhões. Esses números refletem o impacto da nova política tributária no comércio de produtos internacionais de baixo valor.
O CEO também explica que por meio do Open Finance a klavi consegue acessar dados financeiros diretamente dos consumidores de forma consentida e transparente, o que permite uma análise detalhada dos hábitos de consumo, como os lugares onde as pessoas compram e os tipos de produtos adquiridos.
Além disso, é possível comparar comportamentos financeiros em diferentes cenários, como antes e depois de mudanças econômicas ou de políticas públicas, exemplificado pela chamada “taxa das blusinhas”. A klavi é uma empresa regulada pelo Banco Central e está autorizada, mediante consentimento do usuário, a coletar seus dados diretamente das instituições financeiras e criar análises a partir dessas informações.
“Os dados ilustram como a Taxa das Blusinhas está redefinindo a dinâmica do e-commerce no Brasil, afetando diretamente a competitividade das marcas internacionais e impulsionando a performance de varejistas nacionais. Esses são insights valiosos tanto para empresas quanto para consumidores e ajudam a entender tendências de mercado e o impacto de fatores externos nas decisões financeiras”, finaliza Chan.