Diálogo com povos tradicionais é fundamental para a bioeconomia na Amazônia

Painel da Semana do Clima da Amazônia, em Belém (PA), reuniu representantes do mercado financeiro, terceiro setor e poder público para discutir a consolidação da agenda no bioma.

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Foto: Reprodução/ Freepik

Durante o painel “Bioeconomias da Amazônia: escalando uma transição justa e sustentável”, realizado quarta-feira (16), durante a Semana do Clima da Amazônia, em Belém (PA), pesquisadores, representantes do setor público e instituições financeiras discutiram os desafios e caminhos para consolidar a bioeconomia na região amazônica.

Rafaela Reis, pesquisadora e coordenadora de Projetos de Políticas públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), ressaltou a importância do diálogo e da cooperação entre diferentes setores para garantir que a bioeconomia beneficie diretamente as populações locais.

“Nossa base é a ciência, mas é na troca com pequenos produtores, com a assistência técnica e a captação de recursos que conseguimos chegar às pessoas, que são e sempre devem ser o centro de qualquer projeto ou política pública na bioeconomia”, afirmou.

Segundo a pesquisadora, a capacidade de articulação entre tomadores de decisão, comunidades e cientistas será determinante para que a bioeconomia seja tratada como pauta central nas estratégias de enfrentamento à crise climática.

“A bioeconomia não pode ser uma agenda isolada, mas deve estar integrada a todos os temas debatidos na COP30. Ela pode ser uma solução concreta frente à emergência climática”, completou.

Experiências locais e dados sobre o setor

Um estudo em desenvolvimento pelo IPAM aponta que a bioeconomia amazônica tem crescido com base em experiências locais, modelos autônomos de desenvolvimento e iniciativas sustentadas por saberes tradicionais.

A pesquisa já mapeou mais de 11 mil empreendimentos ativos na região da Amazônia Legal, distribuídos por todos os estados que compõem esse território.

Camille Bemerguy, secretária adjunta de Bioeconomia do Estado do Pará, também defendeu a construção de políticas públicas baseadas em evidências e na presença efetiva nos territórios.

“Não é apenas estar na Amazônia, é estar em contato com os territórios. Sem essa troca de experiências, não há política pública efetiva, nem linha de crédito viável”, disse.

Acesso ao crédito e gargalos no financiamento

O painel também abordou as dificuldades de acesso ao crédito enfrentadas por agricultores familiares e empreendedores da sociobiodiversidade.

Ana Cláudia Melo, gerente de Sociobioeconomia do Banco do Brasil, enfatizou a importância de compreender a realidade das comunidades locais na elaboração de linhas de financiamento.

“É como montar um retrato falado. Precisamos ouvir os relatos para entender o cenário e propor soluções adequadas. É necessário eliminar gargalos de financiamento e revisar as visões predominantes dentro do próprio mercado financeiro”, afirmou.

Desafios regulatórios e segurança jurídica

Outro ponto levantado pelos participantes foi a fragilidade do marco legal que regula as atividades produtivas na Amazônia. Paulo Reis, diretor da Assobio — associação que representa mais de 70 empreendimentos da bioeconomia — destacou a necessidade de um licenciamento ambiental sólido e segurança jurídica para o avanço do setor.

“A bioeconomia da Amazônia depende da floresta em pé para existir. Precisa de rios para transporte e de infraestrutura para escoar sua produção. Para isso, é fundamental proteger o meio ambiente e garantir segurança legal aos empreendedores locais”, defendeu.

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