Estamos rumo ao fim do ano. O tempo passa rápido. Não sei se é porque pertenço ao grupo dos seminovos ou porque fazemos coisas demais. Enfim, vamos ao que interessa.
O primeiro semestre foi marcado por calotes de dívidas e fraudes de ídolos nacionais, bancos gringos fazendo bail out, mercado secundário brasileiro de dívida em ebulição por falta de liquidez e aumento de inadimplência em fundos de gestoras da Faria Lima.
Tudo somado, os spreads de risco foram literalmente para a Lua. Papéis de empresas “triple A” foram negociados no mercado secundário com nível superior a CDI + 4% e impediram os milhares de mortais do PME (Pequenas e Médias Empresas) a tomar empréstimos razoáveis para tocar o crescimento de suas operações.
O ciclo clássico de humor de mercado que tipicamente segue a regra de: follow on e IPOs de boas empresas, IPOs de más empresas e que depois terminam o ciclo de baixa, com reestruturação de dívida e, finalmente, com as famosas RJs (Recuperações Judiciais), parece estar se encerrando.
A fila de IPOs na B3 voltou, e a necessidade de o mercado oferecer crédito também. Isto é boa notícia, junto com os recentes cortes da Selic.
Contudo, novas nuvens podem estar no horizonte com o volume de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) emitidos no passado, podendo sofrer algum resfriado pelas recentes perdas de preço de milho e soja.
O Brasil é sempre um negócio cíclico com janelas muito curtas. A hora de se mexer para créditos estruturados com os amigos da Faria Lima é esta.
Por outro lado, para aqueles desejosos de novos sócios, os múltiplos de Bolsa ainda não estão fantásticos, achatando as ambições de um valuation melhor.
Para a turma do PME fica o aviso de que estar preparado com boa governança e auditorias nunca é demais. Um alinhamento ESG (Environmental, Social and Governance) no seu posicionamento também abre frentes com diversas gestoras de recursos, que olham além do desempenho financeiro.
Uma novidade para as PMEs foi o surgimento no mercado local do análogo ao “AIM market” de Londres, que é uma Bolsa de Valores focada em pequenos e médios negócios. Recentemente foi aprovado no sandbox da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o mercado de balcão focado na PME com reduzido custo de taxas e governança mais simples para o projeto do pequeno e médio empresário decolar.
Isto deve evoluir muito e dar vazão a operações para empresas com faturamento de até 300M de reais por ano. O mercado endereçável é gigante. A B3 é um sonho ainda muito distante para 99% dos empresários brasileiros.
É importante o empresário dialogar com as gestoras, corretoras e bancos para entender as opções que já estão ao seu alcance. Crescer sem tomar dinheiro ou arrumar um sócio é uma ilusão e uma ingenuidade.
É hora de fazer seu mini “road show”, seja você do tamanho que for, e saber claramente as razões de tomar outro empréstimo ou engajar em um relacionamento com um novo sócio, sempre alinhado com um bom planejamento estratégico.
Marco França é engenheiro pela PUC e sócio da Auddas