As Forças Armadas brasileiras iniciaram nesta semana a fase principal da Operação Atlas, um dos maiores exercícios militares conjuntos já realizados no país. A ação mobiliza mais de 8 mil militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica sob coordenação do Ministério da Defesa, com foco na Amazônia – considerada uma das regiões mais estratégicas do território nacional.
As atividades ocorrem nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, além de etapas em Espírito Santo e Goiás. Segundo o governo, o objetivo é testar a capacidade de deslocamento estratégico de tropas e equipamentos de várias regiões do Brasil para a Amazônia, fortalecendo a prontidão de defesa em um ambiente de alta complexidade operacional.
A operação acontece em um contexto regional delicado, marcado pelo aumento das tensões militares entre Estados Unidos e Venezuela. Neste mês, Washington enviou jatos F-35 para Porto Rico e deslocou navios de guerra, submarinos nucleares e 4,5 mil fuzileiros para o Caribe, em ofensiva contra cartéis de drogas. Em contrapartida, o governo venezuelano orientou militares da FANB a instruírem moradores de comunidades carentes no uso de armas.
Embora o Ministério da Defesa assegure que a Operação Atlas não tem ligação direta com a crise internacional, reforça que a movimentação prepara o Brasil para a COP 30, conferência climática que acontecerá em novembro de 2025 em Belém (PA). “Estamos deslocando tropas para a Amazônia pensando na COP 30 e na proteção das fronteiras. O Brasil é pacífico, investe em defesa para proteger seu patrimônio, não para invadir ninguém”, declarou o ministro da Defesa, José Múcio.
Estrutura da Operação Atlas
A operação está dividida em três fases:
- Planejamento integrado (junho-julho/2025) – realizado em Brasília, com definição de cenários, deslocamentos e sistemas de comando.
- Deslocamento estratégico (setembro/2025) – transferência de pessoal e equipamentos para a região amazônica.
- Exercício no terreno (2 a 11 de outubro/2025) – manobras conjuntas em campo, com integração em ambientes terrestre, fluvial, marítimo e aéreo.
No total, estão envolvidos 8,6 mil militares:
- Marinha: 4.619 militares, 46 embarcações, 247 meios de Fuzileiros Navais (incluindo blindados Astros e Clanf) e 12 helicópteros.
- Exército: 3.607 militares, 434 viaturas leves e pesadas, 40 blindados (Astros, Guarani e Leopardo) e 7 helicópteros.
- Força Aérea: 410 militares, 21 aeronaves (transporte, patrulha, caça e helicóptero) e 3 satélites.
Segundo o almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, “a mobilidade na Amazônia é o teste mais difícil. Se conseguimos aqui, conseguimos em qualquer lugar do país”.
Armamentos e Tecnologia nacional
Na fase preparatória, em setembro, foram realizados testes no Campo de Instrução de Formosa (GO) dentro da etapa chamada Atlas Armas Combinadas. Entre os equipamentos empregados estão:
- Míssil antiaéreo Mistral
- Metralhadoras .50
- Drone kamikaze – primeira aeronave de ataque remoto das Forças Armadas
- Míssil anticarro 1.2 AC MAX – desenvolvido com tecnologia brasileira, capaz de atingir velocidade de 240 m/s, alcance de até 2 km e penetração superior a 300 mm em blindagem.
A Força Aérea empregou ainda caças A-1M (com maior poder de fogo e armamentos guiados) e A-29 Super Tucano (mais ágil em cenários irregulares).
Contexto geopolítico
Apesar da justificativa oficial ser a preparação para a COP 30 e a defesa da Amazônia, o exercício ocorre após episódios de instabilidade regional, como a escalada entre Venezuela e Guiana em 2023 e a atual movimentação militar dos Estados Unidos no Caribe.
“Nosso objetivo é garantir que a fronteira não se transforme em uma trincheira em meio a disputas externas”, reforçou o ministro Múcio.
Operação Atlas segue até outubro, unindo treinamento militar, defesa estratégica e preparação logística para eventos internacionais que colocarão a Amazônia no centro das atenções globais.