Nesta segunda-feira (14), a Universidade de Harvard anunciou publicamente que não cumprirá as exigências impostas pelo governo do presidente Donald Trump, o que resultou no congelamento de cerca de US$ 2,3 bilhões em subsídios e contratos federais. A decisão da universidade, divulgada por meio de carta oficial assinada pelo presidente Alan Garber, gerou reação imediata da administração Trump, que intensificou o embate nesta terça-feira (15) com novas ameaças e exigências.
O governo Trump havia enviado, na última sexta-feira (11), uma carta a Harvard exigindo mudanças estruturais profundas na universidade. As solicitações incluíam:
- Reformas administrativas com foco em políticas baseadas em mérito;
- Fim dos programas de diversidade, equidade e inclusão;
- Proibição do uso de máscaras em protestos no campus, medida vista como resposta direta às manifestações pró-Palestina;
- Auditorias internas com alunos, professores e gestores.
Essas exigências são parte de uma estratégia mais ampla do governo Trump para pressionar universidades a seguir uma agenda política conservadora, com forte oposição a iniciativas progressistas nos campi.
A resposta de Harvard
Na carta enviada em resposta, o presidente de Harvard, Alan Garber, afirmou que as imposições governamentais violam a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que protege a liberdade de expressão. Ele também apontou que o governo estaria extrapolando sua autoridade legal conforme o Título VI, que proíbe discriminação com base em raça, cor ou origem nacional.
“Nenhum governo — independentemente do partido — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo podem seguir”, declarou Garber.
Segundo a instituição, seguir tais exigências comprometeria os valores fundamentais de liberdade acadêmica e autonomia universitária.
Trump exige pedido de desculpas
Na terça-feira (15), a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente Trump quer que Harvard se desculpe publicamente por permitir o que chamou de “antissemitismo flagrante” em seu campus. Ela se referia a protestos de 2024 contra a guerra em Gaza, considerados pelo governo como motivados por ódio a judeus.
Além disso, o governo passou a questionar publicamente o status de isenção fiscal de Harvard, sugerindo que a universidade seja tratada como uma “entidade política”. Trump também levantou dúvidas sobre o motivo de financiar com dinheiro público uma instituição que já possui um fundo patrimonial superior a US$ 50 bilhões.

Durante coletiva, Karoline Leavitt também criticou Harvard por não ter disciplinado alunos envolvidos em acampamentos e interrupções de aulas durante os protestos de 2024. Ela citou ainda o depoimento da ex-reitora Claudine Gay no Congresso, que declarou que incitar genocídio “poderia” violar regras da universidade, “dependendo do contexto” — fala que gerou polêmica. O governo argumenta que a falta de ação diante desses episódios reforça a necessidade de uma resposta mais firme do Estado.
O que está em jogo para Harvard e outras universidades
A ofensiva contra Harvard marca um capítulo intenso na guerra cultural entre a administração Trump e as universidades americanas, frequentemente acusadas pelo ex-presidente de serem dominadas por ideologias de esquerda. Ao congelar recursos, o governo envia um alerta às demais instituições sobre os riscos de contrariar sua política educacional.
Para Harvard, o congelamento dos mais de US$ 2 bilhões impacta diretamente projetos de pesquisa, bolsas e programas acadêmicos financiados com verba federal. No entanto, a universidade reafirma sua intenção de manter seus valores institucionais e proteger a liberdade de expressão no campus.
A crise entre Donald Trump e Harvard reflete o acirramento do embate político nos Estados Unidos sobre o papel das universidades na formação social e ideológica dos estudantes. Com recursos congelados, ameaças fiscais e pressão pública crescente, a tensão pode marcar um novo precedente sobre os limites da intervenção federal em instituições privadas de ensino.
Fonte: Reuters