A recente intensificação do conflito entre Israel e Irã reacendeu preocupações globais sobre o controle de rotas marítimas estratégicas.
O anúncio iraniano de fechamento temporário do Estreito de Ormuz — uma das principais passagens para o transporte de petróleo do mundo — levantou alertas sobre o impacto dessa medida no comércio internacional e nos preços globais de energia.
O estreito, localizado no Golfo Pérsico, é responsável por cerca de 20% do petróleo comercializado por via marítima. Sua obstrução temporária, promovida por forças iranianas em resposta a ataques israelenses, interrompeu o tráfego de grandes petroleiros e provocou aumentos expressivos nos preços do petróleo.
Países como China e Índia passaram a revisar seus estoques estratégicos, enquanto os Estados Unidos reforçaram sua presença militar na região.
Rotas críticas concentram quase metade do comércio marítimo
Além do Estreito de Ormuz, outras três rotas são consideradas cruciais para o comércio global: o Canal de Suez, o Canal do Panamá e o Estreito de Malaca. Juntas, essas passagens concentram o trânsito de quase 50% das cargas transportadas por navios em todo o mundo.
O especialista em comércio exterior Jackson Campos afirma que o controle dessas rotas representa mais do que uma questão logística — é uma estratégia geopolítica. “Os países que controlam ou influenciam esses corredores podem negociar com mais força no mercado internacional, afetando preços e prazos no comércio global”, explica.
O Canal de Suez, que conecta o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, tem sido afetado por ataques do grupo rebelde Houthi, no Iêmen, o que levou muitas companhias a evitarem a região. Como alternativa, navios estão contornando o continente africano, aumentando o tempo de transporte e os custos de frete.
Já o Canal do Panamá voltou ao centro das discussões políticas nos Estados Unidos. Segundo Campos, a possível retomada do controle norte-americano da passagem é tema recorrente desde a volta de Donald Trump à presidência.
O canal é fundamental para reduzir em semanas o trajeto entre as costas leste e oeste das Américas, além de interligar mercados da Ásia e Europa. A presença crescente da China na região também tem gerado tensões e denúncias de vigilância estratégica.
Impactos logísticos e econômicos
Segundo Campos, a vulnerabilidade dessas rotas a pressões políticas e militares representa risco para toda a cadeia logística global. “Não se trata apenas de caminhos marítimos, mas de linhas vitais de suprimento. Qualquer interrupção pode causar efeitos em cascata nas economias”, afirma.
Ele alerta ainda que países com presença militar ou proximidade geográfica desses corredores passam a ter poder de influência desproporcional. “Quem controla essas passagens pode impor suas próprias regras ao comércio global. Por isso, são frequentemente alvos de disputas silenciosas ou abertamente declaradas entre grandes potências.”
Brasil também pode sentir os efeitos
Para o Brasil, os reflexos de uma eventual paralisação total no Estreito de Ormuz seriam imediatos. A alta no preço do barril de petróleo encareceria combustíveis como gasolina e diesel, além de aumentar o custo do transporte de cargas, o que impactaria as exportações e importações brasileiras. Produtos importados poderiam atrasar, e empresas poderiam enfrentar escassez de insumos industriais e alimentícios.
Diplomacia como alternativa para evitar colapso logístico
Diante desse cenário, a saída apontada por especialistas é o reforço da diplomacia internacional. “Essas rotas são como artérias do sistema circulatório do comércio. Se uma delas for bloqueada, todo o organismo econômico global sofre”, diz Campos.
Segundo ele, manter o diálogo entre as nações e garantir a segurança das rotas estratégicas é essencial para evitar crises prolongadas que poderiam comprometer o abastecimento de energia e insumos em escala global. “A diplomacia nessas áreas não é opcional — é uma exigência do mundo interconectado em que vivemos”, conclui.