A recente sinalização do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa adicional de 10% a países alinhados ao grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem gerado preocupação entre analistas, empresários e investidores brasileiros.
A medida, se implementada, pode aprofundar tensões geopolíticas e provocar efeitos relevantes sobre cadeias globais de produção, exportações e o ambiente de negócios em países emergentes.
Impacto direto no Brasil
Especialistas alertam que a proposta afeta diretamente a economia brasileira, especialmente setores com forte dependência do mercado americano, como agronegócio, mineração e siderurgia.
“Essa tarifa representa uma hostilidade comercial clara, com potencial para provocar desvalorização cambial, aumento do risco-país e maior volatilidade dos ativos locais”, afirma Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, ressalta que o cenário é de atenção redobrada para os investidores.
“Se implementada, a medida pode afastar capitais de mercados emergentes. O real tende a sofrer e o risco sistêmico se eleva. As empresas precisarão reforçar estratégias de proteção cambial e revisar planos de exportação para os Estados Unidos”, explica.
Nova dinâmica global e reposicionamento estratégico
Para Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, a possível tarifa não deve ser vista isoladamente.
“Ela integra uma agenda mais ampla de reposicionamento dos Estados Unidos frente à ascensão dos BRICS. O Brasil deve enfrentar maior imprevisibilidade nas relações comerciais com os EUA, o que, por outro lado, pode incentivar investimentos em setores internos menos expostos, como Tecnologia e descarbonização.”
A medida também reforça uma tendência global de fragmentação e nacionalismo econômico. “O investidor precisa entender que o jogo mudou: não se trata apenas de retorno financeiro, mas de geopolítica, estabilidade institucional e posicionamento estratégico”, afirma João Kepler, CEO da Equity Group.
Desafios para empreendedores e oportunidades de adaptação
O cenário exige dos empresários uma capacidade maior de adaptação, com foco em governança, análise de risco político e diversificação de mercados. “Empreendedores não podem mais ignorar a política internacional.
Cadeias logísticas, custos e planos de expansão estão diretamente ligados ao contexto global”, observa Jorge Kotz, CEO do Grupo X.
A presidente do Cenapret, Mary Elbe Queiroz, aponta ainda impactos jurídicos relevantes. “Essa tarifa exigiria revisão nos planejamentos fiscais, regimes aduaneiros e estruturas de preços de transferência. As empresas precisarão de respostas técnicas rápidas e bem fundamentadas para mitigar litígios e evitar perdas tributárias.”
Reflexos sobre investimentos e crédito
A incerteza global também reacende a importância do crédito doméstico e de alternativas como os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
“Empresas expostas ao comércio exterior podem enfrentar dificuldades de liquidez. O financiamento estruturado com análise de risco se torna essencial”, diz Gustavo Assis, CEO da Asset Bank.
Fábio Murad, CEO da Super-ETF Educação, destaca que investir em ativos americanos pode ser uma estratégia de proteção patrimonial. “Diante de decisões unilaterais com efeitos globais, a diversificação internacional se torna ainda mais importante.”
Cenário de tensão prolongada
Segundo Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a sinalização de Trump revela mudanças mais profundas no equilíbrio global. “O Brasil precisa fortalecer sua autonomia estratégica. Investimentos em setores internos podem se tornar mais atraentes frente à instabilidade externa.”
A avaliação é compartilhada por André Matos, CEO da MA7 Negócios: “A medida afeta a previsibilidade do ambiente internacional. O investidor inteligente precisa antecipar movimentos e identificar oportunidades em meio ao desalinhamento.”
Volnei Eyng, da gestora Multiplike, conclui que a retórica protecionista contribui para o aumento da incerteza em um cenário que já exige cautela. “Ela compromete acordos comerciais e pode dificultar o crescimento de economias emergentes.”