Durante o Fórum Empresarial dos BRICS, realizado nesta semana, lideranças políticas e empresariais reforçaram o protagonismo dos países do grupo no cenário global, especialmente no contexto da transição energética, da transformação digital e da redução das desigualdades.
O evento antecede a Cúpula dos BRICS, que será realizada no dia seguinte.
Composto atualmente por 11 membros plenos, o BRICS já representa mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global em paridade de poder de compra. Em 2024, enquanto o crescimento econômico mundial foi de 3,3%, os países do grupo apresentaram uma média de 4%. A expectativa é que esse ritmo seja mantido em 2025.
Integração econômica e comércio
De acordo com autoridades presentes no evento, o fortalecimento do intercâmbio entre os setores produtivos dos países-membros é essencial para consolidar o BRICS como um polo de economias emergentes dinâmicas.
O comércio do Brasil com os demais integrantes do grupo alcançou US$ 210 bilhões em 2024 — mais que o dobro do registrado com a União Europeia. Só o Agronegócio brasileiro respondeu por US$ 71 bilhões em exportações para o bloco.
A sinergia entre as nações do Sul Global foi destacada como fator chave na superação de crises passadas, como a recessão global de 2008 e a pandemia de Covid-19.
Agora, diante de um contexto internacional marcado por protecionismo e tensões geopolíticas, os BRICS propõem-se a liderar esforços para a reforma da governança econômica global.
Energia limpa e agricultura sustentável
A transição energética justa e inclusiva foi um dos principais temas do Fórum. Os países do BRICS concentram grande parte dos recursos estratégicos para a nova economia verde: 84% das reservas globais de terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite.
Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por esses minérios deve triplicar até 2040.
Também foi ressaltado o potencial da agricultura sustentável. Os países do grupo detêm um terço das terras agricultáveis do planeta e respondem por 42% da produção agropecuária global.
Programas de crédito rural, restauração de áreas degradadas e fomento à agricultura de baixo carbono foram apontados como caminhos para aumentar a segurança alimentar e impulsionar o desenvolvimento rural.
Cooperação tecnológica e governança digital
Outro tema recorrente foi a transformação digital e seus impactos sobre as economias emergentes. A revolução tecnológica, impulsionada por inteligência artificial (IA) e infraestruturas digitais públicas, está criando novas oportunidades para startups e pequenas empresas.
Entretanto, representantes alertaram para os riscos de ausência de regulação internacional da IA. O desenvolvimento de diretrizes multilaterais foi considerado urgente para evitar a concentração de poder em grandes corporações tecnológicas e mitigar efeitos colaterais.
Instrumentos financeiros e investimentos
Na esfera financeira, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), criado pelos BRICS, já aprovou US$ 40 bilhões em projetos de transporte, saneamento e energia limpa. O banco também tem promovido o uso de moedas locais em transações, o que reduz custos e facilita o comércio entre os países-membros.
Bancos centrais do grupo estão desenvolvendo sistemas de pagamento transfronteiriços instantâneos e seguros. Paralelamente, bancos nacionais de desenvolvimento, como o BNDES no Brasil, vêm direcionando recursos significativos para projetos de transformação produtiva sustentável — no caso brasileiro, mais de US$ 50 bilhões desde 2023.
Participação feminina e inclusão
O fórum também enfatizou a importância da participação feminina na economia. A Aliança Empresarial de Mulheres foi elogiada por sua atuação em favor do empreendedorismo feminino e da igualdade de gênero.
Segundo especialistas, ampliar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho traz ganhos significativos de produtividade e acelera o crescimento.
Perspectivas e desafios
Com a presença de representantes de países parceiros como a Malásia, atual presidente da ASEAN, os BRICS reforçam seu papel como articuladores de um modelo de desenvolvimento mais inclusivo, sustentável e multilateral.
Na véspera da Cúpula de Chefes de Estado, as lideranças destacaram a necessidade de cooperação para enfrentar as múltiplas crises atuais, do clima aos conflitos armados. A construção de soluções integradas e solidárias, segundo os organizadores, é fundamental para garantir prosperidade em um mundo em transformação.