A trajetória de médias empresas brasileiras em busca de expansão acelerada pode esconder riscos significativos. Especialistas apontam que, sem disciplina financeira e planejamento, o que parece um passo rumo à consolidação pode se transformar em endividamento e insolvência.
Antes de ampliar operações, aumentar a produção ou assumir contratos de grande porte, é essencial avaliar a necessidade de capital de giro (NCG). Margens de lucro projetadas não garantem sobrevivência se o fluxo de caixa não acompanhar o ritmo de crescimento.
O Modelo Fleuriet e o risco do overtrading
A análise da dinâmica do capital de giro pode ser feita a partir do Modelo Fleuriet. Ele mostra que empresas com ciclo financeiro positivo — quando precisam pagar fornecedores antes de receber dos clientes — ficam vulneráveis ao chamado overtrading, situação em que o crescimento das vendas eleva desproporcionalmente a necessidade de capital de giro.
Quando o Capital Circulante Líquido (CCL) não cresce na mesma medida, abre-se um espaço que costuma ser preenchido com endividamento de curto prazo, como capital de giro bancário ou desconto de duplicatas. Essa dependência aumenta a exposição a juros elevados e riscos de liquidez.
Exemplos práticos
Um caso citado no setor metalmecânico de Santa Catarina ilustra o problema. A empresa, com 600 funcionários, firmou contrato de R$ 30 milhões com margem de 25%, mas o pagamento só ocorreria na entrega final, seis meses depois.
Sem adiantamentos, a companhia rapidamente esgotou seu caixa e limites bancários, ficando sem recursos para concluir o projeto.
Por outro lado, uma indústria têxtil mostrou como é possível crescer de forma sustentável. Com ciclo financeiro de 140 dias, calculou seu limite de crescimento em 30% ao ano, mas optou por avançar de forma conservadora, entre 20% e 23%.
A gestão rigorosa de prazos, estoques e clientes permitiu expansão contínua, sem crises de liquidez.
Sinais de alerta
Especialistas recomendam atenção a alguns indícios de desequilíbrio:
- aumento de vendas sem melhora no caixa;
- dependência crescente de capital de giro superior à geração interna;
- uso constante de crédito de curto prazo para financiar operações.
Ferramentas como o cálculo da NCG, a análise da capacidade de autofinanciamento e a comparação entre crescimento projetado e crescimento sustentável são consideradas essenciais para prevenir problemas.
Perspectiva
Segundo analistas, crescer não significa apenas aumentar vendas, mas respeitar os limites financeiros da empresa. A preservação do caixa, da credibilidade no mercado e do relacionamento com fornecedores é apontada como chave para atravessar crises, conquistar novos mercados e transformar oportunidades em resultados consistentes e duradouros.