Sucessão familiar requer preparo e governança estruturada
“O olho do dono é que engorda o gado.” O ditado é antigo, mas segue atual, ainda que, na prática, seja frequentemente mal interpretado. Não se trata de vigiar obsessivamente o negócio ou ocupar todas as decisões do dia a dia, mas de compreender que o papel do dono precisa estar diretamente ligado à geração de valor, à visão estratégica e à capacidade de preparar o futuro da empresa.
Esse olhar, quando estruturado, é o que garante não só o crescimento, mas a perenidade do negócio. E é justamente aí que a sucessão familiar encontra seus maiores gargalos.
Em quase que 100% das empresas familiares, a sucessão é um desafio inevitável. Mais cedo ou mais tarde, o tema se impõe, e o que deveria ser um processo natural de continuidade se transforma em um risco, quando falta o principal: governança. Na maioria das vezes, o empresário construiu o negócio com esforço pessoal, conhece cada detalhe da operação e domina o mercado em que atua, mas não sabe dar o próximo passo no crescimento. Não sabe estruturar o futuro.
É comum que, ao perceber a necessidade de avançar, o dono traga um gestor, mas não consiga subsidiá-lo. Faltam estratégia, processos, regras claras e, sobretudo, um ambiente em que as funções sejam separadas de forma eficaz.
Sem governança, o que se vê é a sobreposição de papéis. A família ocupa posições estratégicas para as quais nem sempre está preparada e, pior, confunde-se o papel de sócio com o de gestor. O resultado é a fragilização da estrutura, a perda de eficiência e o desalinhamento com o mercado.
Competência deve prevalecer sobre herança
É preciso deixar claro: o sobrenome não qualifica ninguém para a gestão. O mercado respeita competência, não herança. E o time interno também. Isso não significa excluir a família do negócio.
As empresas familiares que prosperam são aquelas que conseguem organizar sua estrutura, estabelecer mecanismos de governança, definir papéis e, principalmente, separar o que é propriedade do que é gestão.
É a governança que permite ao dono atuar na construção do futuro, no planejamento estratégico e na defesa dos valores da empresa, sem que isso comprometa a eficiência operacional.
A sucessão começa no presente
Sem governança, a sucessão vira um jogo de expectativas frustradas. É o parente jovem ocupando cargos estratégicos sem preparo. É a estrutura sufocada por decisões mal distribuídas.
É o negócio preso ao passado por medo do futuro. E é exatamente isso que os dados de mercado revelam. Em todas as empresas familiares, o desafio da sucessão só encontra caminho quando existe estrutura. Quando existe governança.
A sucessão não é um problema apenas da próxima geração. É um problema do presente. E, sem enfrentar esse tema com a seriedade necessária, o que está em jogo não é só a gestão, mas a sobrevivência do negócio.