A mortalidade de empresas no Brasil continua sendo um dos maiores desafios para o empreendedorismo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 48% das empresas encerram suas atividades antes de completar cinco anos. A principal causa, no entanto, não é a falta de clientes, mas a ausência de gestão contábil, planejamento financeiro e controle de rotina.
Improviso e falta de estrutura
De acordo com Cláudio Lasso, contador, empresário e fundador da Trivium Estratégia & Auditoria, a maioria das empresas fecha por falta de estrutura e controle, não por falta de faturamento.
“Muitos negócios brasileiros ainda operam de forma reativa e emocional, sem projeções, orçamentos ou relatórios de desempenho. Há uma confusão entre faturar e lucrar — e o verdadeiro problema costuma estar no fluxo de caixa, no capital de giro e nos impostos pagos de forma incorreta”, explica Lasso.
Entre os indicadores de gestão mais negligenciados no país, o especialista destaca:
- Margem líquida real
- Índice de endividamento e cobertura de juros
- Custo fixo sobre o faturamento
- Percentual tributário efetivo
Segundo Lasso, a falta de acompanhamento desses indicadores leva o empresário a tomar decisões sem base concreta, o que pode gerar um efeito dominó de problemas financeiros e legais, como autuações, bloqueios de conta e perda de credibilidade.
Cultura do improviso e consequências
O Sebrae estima que mais de 60% das empresas que encerraram suas atividades entre 2020 e 2024 apresentavam contabilidade irregular, ausência de gestão de fluxo de caixa e falhas no planejamento tributário.
“Esse dado revela um problema que vai além da técnica: o improviso se tornou uma cultura”, avalia o contador.
Ele acrescenta que muitos empreendedores confundem velocidade com eficiência e acabam crescendo sem base sólida. “No curto prazo, há a sensação de sucesso, mas, no longo, isso destrói margens e aumenta a dependência de crédito”, alerta.
Caminhos para reverter o cenário
Lasso sugere medidas práticas para estruturar melhor as empresas e reduzir o risco de falência:
Reestruturação contábil imediata
Adotar uma contabilidade gerencial, e não apenas fiscal, é o primeiro passo. Revisar o enquadramento tributário, o modelo de escrituração e a formação de preços ajuda a recuperar margens e previsibilidade.
Controle de caixa e endividamento
O gestor deve conhecer diariamente o saldo real de caixa, o valor de impostos provisionados e a projeção de recebíveis. “Fluxo de caixa não é planilha, é gestão de sobrevivência”, afirma.
Separação de finanças pessoais e empresariais
Misturar contas pessoais com as da empresa é um dos erros mais comuns e prejudiciais. Empresas saudáveis mantêm política de pró-labore e distribuição de lucros bem definidas.
Revisão tributária e auditoria preventiva
Auditorias periódicas ajudam a evitar passivos ocultos e pagamentos indevidos. Segundo o contador, muitos negócios perdem até 2% do faturamento anual por falhas na classificação contábil.
Construção de rotina e método
A criação de rotinas de gestão é fundamental. Definir horários fixos para análise de indicadores, reuniões de resultado e acompanhamento de metas traz previsibilidade e fortalece a operação.
Profissionalização e continuidade
Para Lasso, o país precisa de gestores mais preparados, não apenas de mais empreendedores.
“Negócio forte não é o que cresce rápido, é o que cresce estruturado. Enquanto muitos buscam atalhos, quem constrói base técnica e controle financeiro é quem permanece”, conclui.
Ele reforça que a gestão contábil sólida e o planejamento financeiro estruturado são as principais formas de prevenir a quebra de um negócio.
“A contabilidade, quando bem aplicada, é a ferramenta mais poderosa de prevenção e crescimento. Sem método, não há resultado. Sem estrutura, não há continuidade. As empresas não quebram por falta de venda — quebram por falta de comando.”




















