A convivência entre diferentes gerações tem se consolidado como uma das principais forças das empresas familiares no Brasil. A combinação entre a experiência de quem fundou os negócios e a visão estratégica dos herdeiros mais jovens vem permitindo equilibrar tradição e inovação, fortalecendo essas organizações diante de um mercado em constante transformação.
Tradição, inovação e adaptação
Esse modelo de liderança intergeracional possibilita que práticas consolidadas coexistam com novas abordagens em áreas como Tecnologia, governança, sustentabilidade e expansão comercial.
Estudos indicam que empresas familiares, quando estruturadas, apresentam maior agilidade na adaptação a mudanças, sobretudo quando a sucessão é planejada.
O desafio da terceira geração
Especialistas apontam que a transição para a chamada “terceira geração” é um dos maiores testes de sobrevivência para esse tipo de organização. Segundo Alexandre Chaves, sócio da Auddas, o desafio está em transformar diferenças em força. “Cada geração tem repertórios distintos de valores, métodos e visões.
A primeira tende a ser mais intuitiva, a segunda busca profissionalização, e a terceira já nasce conectada ao contexto digital, com olhar para inovação e impacto social”, afirma. Para ele, a criação de espaços de diálogo é essencial para garantir equilíbrio.
Planejamento e governança
Rogério Vargas, também sócio da Auddas e especialista em sucessão, reforça a necessidade de separar herdeiros de sucessores.
“Sem um planejamento estruturado, o patrimônio construído pode se transformar em fonte de conflitos, o que muitos chamam de ‘herança maldita’. É fundamental distinguir quem está preparado para gerir e criar conselhos familiares que alinhem expectativas, com papéis definidos e rituais de gestão capazes de sustentar valor e resultados para o futuro”, avalia.
Responsabilidade além do patrimônio
A continuidade dos negócios familiares vai além da preservação do patrimônio. Envolve também responsabilidade com comunidades, empregados, fornecedores e clientes, todos diretamente afetados por eventuais rupturas.
Especialistas destacam que a escuta e o respeito a cada envolvido — sucessor, sucedido ou preterido — são elementos indispensáveis para legitimar o processo de sucessão.
Choque de gerações e vantagem competitiva
O cenário atual é inédito: a expectativa de vida ampliada permite que três, e até quatro gerações, convivam simultaneamente em uma mesma empresa.
Esse contexto amplia o potencial de choques culturais, de relacionamento e de visão empresarial. Quando bem administrados, esses encontros se transformam em vantagem competitiva; quando negligenciados, podem gerar ciclos de conflito e perda de valor.
Legado e inovação como motores de crescimento
A tensão entre legado e inovação é considerada saudável e pode funcionar como motor de crescimento. Para isso, especialistas defendem a adoção de boas práticas de governança, programas de desenvolvimento de acionistas, alinhamento de propósito e fortalecimento da agenda de sustentabilidade.
Esses mecanismos ajudam a garantir que a autonomia das novas gerações se some à experiência acumulada, mantendo viva a identidade construída ao longo da trajetória empresarial.