Em 2024, as empresas brasileiras movimentaram mais de US$ 270 bilhões em importações e exportações, segundo dados do Banco Central.
Apesar do volume expressivo, as transferências internacionais ainda representam um desafio, devido a processos considerados lentos, burocráticos e onerosos, que podem comprometer a competitividade de organizações que buscam agilidade em operações no exterior.
O sistema tradicional e seus limites
Criado nos anos 1970, o sistema SWIFT segue como padrão global para transações internacionais, mas acumula críticas pela lentidão e pelos custos relativamente altos.
Uma operação via SWIFT pode levar até cinco dias úteis para ser concluída e consumir entre 1% e 5% do valor transferido. Em um mercado cada vez mais dinâmico, tais limitações representam um obstáculo estratégico.
A alternativa das stablecoins
Nesse contexto, cresce o interesse pelas chamadas stablecoins — moedas digitais lastreadas em dólar que permitem liquidação quase imediata, com rastreabilidade garantida pela blockchain. Pagamentos cross-border podem ser concluídos em minutos, a qualquer hora do dia, e com custos significativamente menores em comparação aos meios tradicionais.
Especialistas ressaltam que a Tecnologia não substitui o câmbio, mas integra-o a um fluxo mais moderno. O modelo possibilita maior transparência e eficiência, reduzindo a dependência exclusiva do sistema bancário tradicional.
Estrutura e integração tecnológica
A adoção de stablecoins por empresas exige a escolha de uma plataforma ou exchange que funcione como ponte entre o sistema financeiro tradicional e o digital. A partir dela, ocorre a conversão de reais em moedas digitais como USDC ou USDT, amplamente aceitas em operações B2B.
Outro ponto central é a definição do modelo de custódia — que pode ser feito por meio de carteiras próprias, com controle total dos recursos, ou pela infraestrutura da própria plataforma, que oferece segurança terceirizada.
Na etapa seguinte, os sistemas de gestão, como os ERPs, podem ser integrados ao novo fluxo de pagamentos por meio de APIs, permitindo automação da tesouraria. Nesses casos, a rotina financeira é otimizada: o pagamento começa em reais, é convertido em dólar digital, transferido em minutos e liquidado na moeda local do fornecedor de forma centralizada.
Segurança e conformidade regulatória
Além da eficiência operacional, as stablecoins contam com mecanismos de conformidade. As de maior porte divulgam auditorias periódicas e seguem normas internacionais de prevenção à lavagem de dinheiro (AML) e de identificação de clientes (KYC).
No Brasil, o Banco Central já conduz iniciativas como o sandbox regulatório e o desenvolvimento do Drex, ao mesmo tempo em que a Lei de Criptoativos estabelece diretrizes para prestadores de serviços financeiros. Essas medidas reforçam a segurança do ambiente para empresas que optam pela digitalização de seus fluxos internacionais.
Um caminho para a integração global
A crescente adoção de moedas digitais no ambiente corporativo sinaliza uma tendência de transformação estrutural. Para empresas brasileiras, a transição “do real ao dólar digital” pode representar ganhos de velocidade e redução de custos, além de reforçar sua inserção competitiva em um mercado global cada vez mais digitalizado.