Em meio às limitações e desigualdades dos modelos econômicos tradicionais, o cooperativismo vem se consolidando como uma alternativa sustentável e inclusiva.
Com base em princípios como solidariedade, governança democrática e distribuição equitativa de resultados, o movimento ganha projeção internacional com a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de declarar 2025 como o Ano Internacional do Cooperativismo. O tema escolhido é “Cooperativas constroem um mundo melhor”.
Segundo a Aliança Cooperativa Internacional, existem mais de 3 milhões de cooperativas em funcionamento em cerca de 150 países, reunindo aproximadamente 1 bilhão de membros e respondendo por cerca de um em cada oito empregos no mundo — o equivalente a cerca de 280 milhões de trabalhadores.
Presença significativa no Brasil
No Brasil, o movimento cooperativista também tem presença expressiva. De acordo com o Anuário 2023 da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o país conta com mais de 4,5 mil cooperativas, somando cerca de 23,45 milhões de cooperados, o que representa aproximadamente 11,5% da população nacional.
Essas cooperativas geram mais de 550 mil empregos diretos e movimentaram R$ 692 bilhões em 2023.
Com forte atuação em áreas como crédito, saúde, agricultura e consumo, o cooperativismo tem papel decisivo na inclusão produtiva, especialmente em regiões rurais e municípios de pequeno porte. Nessas localidades, muitas vezes representa a principal força econômica e social.
Distribuição de renda e desenvolvimento local
Diferentemente de empresas tradicionais, cujo lucro tende a se concentrar entre acionistas, o modelo cooperativista se baseia na distribuição dos resultados entre os próprios cooperados.
Essa estrutura promove o desenvolvimento regional, fortalece economias locais e estimula a participação ativa dos cidadãos nos rumos da atividade econômica.
Estima-se que o faturamento global das cooperativas alcance cerca de US$ 2,5 trilhões por ano, evidenciando a relevância econômica do setor. No entanto, mais do que números, especialistas destacam a resiliência estrutural do modelo como um de seus maiores trunfos.
Resiliência e impacto social
A governança participativa, o vínculo com a comunidade e o foco no bem coletivo contribuem para que as cooperativas resistam melhor a crises. Ao contrário de empresas convencionais, que frequentemente recorrem a cortes de pessoal em momentos de instabilidade, cooperativas tendem a manter postos de trabalho e preservar a renda de seus associados.
No Brasil, essa característica é especialmente visível em cidades menores, onde cooperativas garantem acesso a crédito, criam oportunidades e fortalecem redes locais de apoio e produção.
Alinhamento com valores ESG
O cooperativismo também se alinha de forma natural aos princípios de responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG). Um exemplo citado no setor é o da Unimed-BH, cooperativa médica que presta serviços a mais de 1,5 milhão de clientes e que também apoia a Rede Sol, formada por catadores de materiais recicláveis.
A parceria resultou em modernização da gestão, formalização da cooperativa e aumento superior a 50% na renda dos trabalhadores, por meio de um modelo de intercooperação.
Inclusão e equidade
Além do impacto econômico, o modelo cooperativista promove inclusão social, com espaço para a participação de mulheres, jovens e comunidades tradicionais. Ao incentivar a equidade e a tomada de decisão coletiva, as cooperativas contribuem para o fortalecimento do tecido social e para uma sociedade mais justa.
Um ano para refletir e projetar o futuro
A designação de 2025 como Ano Internacional do Cooperativismo representa uma oportunidade de dar visibilidade ao setor e reconhecer sua importância histórica.
Iniciativas como o Dia Internacional do Cooperativismo e o Dia C (Dia de Cooperar) ajudam a conectar o movimento às novas gerações e às comunidades em que atua.
O cooperativismo se apresenta como uma resposta concreta aos desafios econômicos e sociais contemporâneos, oferecendo um modelo onde a colaboração substitui a competição desleal, e onde o lucro é consequência — e não fim — do processo produtivo.