O fim da tarifa adicional de 50% aplicada pelos Estados Unidos às exportações brasileiras trouxe alívio ao setor de hortifrútis, um dos mais afetados pela medida. A retirada da cobrança, em novembro, abre caminho para a normalização dos embarques após três meses e meio de queda no volume e no valor das vendas.
Dados do Comex Stat, do governo federal, mostram que, entre agosto e outubro, as exportações de manga para o mercado norte-americano recuaram 40% em valor em relação ao mesmo período do ano anterior. A castanha-do-pará teve retração de 94%, enquanto uva, café e gengibre também registraram perdas significativas.
Queda das tarifas deve reequilibrar comércio bilateral
De acordo com representantes do setor, a retirada da sobretaxa deve contribuir para restabelecer a dinâmica do comércio entre os dois países. O mercado norte-americano é considerado estratégico para frutas brasileiras, e a redução dos custos tende a facilitar o escoamento, estabilizar preços e manter a produção ativa.
A manga ilustra os impactos da tarifa. Embora o Brasil tenha exportado um volume 41% maior do fruto entre agosto e outubro deste ano — 31,8 mil toneladas ante 22,6 mil toneladas em 2024 —, o preço por quilo caiu de US$ 1,30 para US$ 0,78 no período. Como resultado, o faturamento passou de US$ 29,4 milhões no ano passado para US$ 25 milhões este ano.
Outros produtos também sentiram os efeitos do tarifaço
A castanha-do-pará registrou um dos maiores impactos: os embarques caíram de 367,6 toneladas para 21,6 toneladas nos três meses analisados, queda de 94%.
O setor de uvas também foi afetado. Entre agosto e outubro do ano passado, foram enviadas 2,8 mil toneladas aos Estados Unidos; neste ano, o número caiu para 938,3 toneladas, redução de 67%. O valor por quilo também recuou, de US$ 3,77 para US$ 3,23.
Nas exportações de café, houve queda de 39,6% no volume enviado. Entre agosto e outubro deste ano, foram exportadas 56,6 mil toneladas, ante 93,7 mil toneladas no mesmo período de 2024. Em valores, houve alta de 38% no preço médio do quilo, mas o faturamento caiu de US$ 428,3 milhões para US$ 356,7 milhões.
As vendas de gengibre diminuíram 22% em volume, passando de 3,6 mil toneladas para 2,8 mil toneladas no período comparado. O valor exportado caiu de US$ 5,4 milhões para US$ 3,4 milhões.
Exportadores buscaram novos mercados durante a vigência da tarifa
Mesmo com a cobrança adicional, empresas brasileiras mantiveram e, em alguns casos, ampliaram seus embarques de hortifrútis, redirecionando parte da produção para mercados da Europa, Ásia e América do Sul.
No caso da manga, os exportadores continuaram enviando volumes ao mercado norte-americano, mesmo com margens reduzidas, como estratégia para evitar acúmulo de estoques, perdas na produção e fragilização de relações comerciais consolidadas.
Reação rápida foi essencial para preservar competitividade
A imposição da tarifa evidenciou a necessidade de o setor estar preparado para mudanças externas repentinas, que podem alterar o acesso a mercados sem relação direta com a produtividade ou com a demanda internacional.
Especialistas destacam que fatores como compromissos contratuais, câmbio favorável e logística já estruturada levaram produtores a aceitar preços mais baixos para manter presença nas prateleiras dos EUA. Com o fim da sobretaxa, a expectativa é de recuperação gradual do mercado.
Mercado internacional mantém ritmo de crescimento
A tarifa de 50% entrou em vigor em 6 de agosto e foi revogada em 20 de novembro. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as exportações brasileiras para os EUA caíram 16,5% em agosto, 20,3% em setembro e 37,9% em outubro.
Apesar das restrições, as vendas externas totais do Brasil cresceram 9,1% em outubro em relação ao mesmo mês de 2024, atingindo o maior valor para o mês desde o início da série histórica, em 1989.




















