O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (2) que vê perspectivas “muito positivas” para a relação com o Brasil após uma conversa telefônica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em declaração a repórteres na Casa Branca, Trump disse que ambos tiveram “uma ótima conversa” e discutiram temas sensíveis da agenda bilateral, incluindo tarifas, comércio e sanções.
“Falamos sobre comércio. Falamos sobre sanções, porque, como vocês sabem, eu os sancionei em relação a certas coisas que aconteceram”, afirmou Trump, em aparente referência às medidas adotadas por sua administração contra o Judiciário brasileiro durante o processo criminal envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em publicação nas redes sociais, Trump acrescentou que está ansioso para reencontrar Lula e reforçou que “muita coisa boa resultará desta parceria recém-formada”.
Lula pede avanço rápido na retirada de tarifas
Mais cedo, o Palácio do Planalto informou que Lula manifestou a Trump o desejo de avançar rapidamente nas negociações para remover a sobretaxa de 40% aplicada pelos Estados Unidos a parte dos produtos brasileiros — tarifa ainda vigente após várias rodadas de flexibilização.
Segundo o governo brasileiro, 22% das exportações do Brasil para os EUA continuam sujeitas a sobretaxas, embora esse número já tenha sido maior. No início da imposição das tarifas, 36% das vendas brasileiras ao mercado americano estavam afetadas.
Na conversa, Lula classificou como “muito positiva” a recente decisão da Casa Branca — anunciada em 20 de novembro — que retirou 238 produtos da lista do tarifaço, incluindo café, chá, frutas tropicais, sucos, cacau, especiarias, banana, laranja, tomate e carne bovina. Ainda assim, reforçou que há outros itens sensíveis que precisam entrar na mesa de negociação.
O telefonema, segundo o governo brasileiro, foi “muito produtivo” e teve duração aproximada de 40 minutos.
Contexto: Entenda o tarifaço aplicado ao Brasil
As sobretaxas fazem parte da política comercial da administração Trump, que busca conter a perda de competitividade dos Estados Unidos diante da China.
- 2 de abril: Trump elevou tarifas com base no déficit comercial dos EUA com cada país. O Brasil, por ter superávit favorável aos EUA, recebeu a tarifa baixa de 10%.
- 14 de novembro: Washington retirou parte das tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros.
- 6 de agosto: uma tarifa adicional de 40% foi aplicada ao Brasil em retaliação a decisões que, segundo Washington, prejudicariam big techs americanas e em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com fontes diplomáticas, a decisão dos EUA de flexibilizar parte das tarifas foi influenciada por contatos diretos entre os dois presidentes, incluindo um encontro recente na Malásia e posteriores conversas telefônicas.
Tratativas em andamento
Negociadores brasileiros afirmam que, apesar do alívio ao agronegócio, os produtos industriais continuam sendo o principal foco de preocupação. Itens de maior valor agregado ou fabricados sob encomenda encontram maior dificuldade para redirecionar exportações a outros mercados, ampliando a pressão pela retirada das tarifas.
Além das tarifas, temas não tarifários permanecem na pauta bilateral, como:
- cooperação em terras raras,
- regulação de big techs,
- parcerias em energia renovável,
- discussão sobre o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata).
Ambos os governos indicaram que novas reuniões técnicas ocorrerão nas próximas semanas.



















