O governo anunciou nesta segunda-feira (20) um programa que prevê a liberação de R$ 40 bilhões em empréstimos para reformas residenciais. A medida, voltada a famílias que desejam melhorar o conforto do lar, deve impulsionar o setor da construção civil no país. Especialistas, porém, recomendam cautela: embora o crédito possa ser vantajoso, ele também pode se transformar em um problema financeiro se não for bem planejado.
Cautela com custos e condições
Segundo o advogado Stefano Ribeiro Ferri, especialista em Direito do Consumidor, é comum que consumidores associem programas governamentais a condições mais favoráveis — o que nem sempre é verdade.
“O principal risco é achar que, por ser um programa do governo, o crédito é automaticamente vantajoso. É preciso olhar com atenção a taxa de juros, o indexador usado, o custo total da operação e as garantias exigidas”, afirma Ferri.
Ele recomenda que o consumidor avalie se a parcela realmente cabe no orçamento e se a obra está bem planejada, lembrando que reformas costumam gerar custos adicionais.
Comparar o CET e outras linhas de crédito
Antes de contratar qualquer financiamento, Ferri orienta que o consumidor compare o Custo Efetivo Total (CET) com outras opções disponíveis no mercado, como bancos e fintechs.
“Esse indicador mostra o valor real da dívida, incluindo juros, tarifas e seguros. Também é importante observar o prazo, o tipo de correção monetária e se o contrato permite amortização antecipada sem multa”, explica.
Orçamento familiar e prevenção de inadimplência
Outro ponto essencial é respeitar os limites do orçamento familiar. Embora algumas instituições permitam parcelas que cheguem a 30% ou 35% da renda, Ferri recomenda prudência:
“O ideal é calcular com base na renda líquida e considerar outras dívidas já existentes. Se o orçamento estiver muito apertado, qualquer imprevisto pode levar à inadimplência.”
Atenção ao contrato e aos direitos do consumidor
No campo jurídico, o especialista destaca a importância de ler atentamente todas as cláusulas contratuais. É necessário verificar juros, correções, seguros obrigatórios e penalidades, além de exigir uma cópia integral do contrato.
Ele lembra ainda que a transparência nas informações é um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor.
Riscos e planejamento
A inadimplência pode gerar consequências graves, como cobrança judicial, negativação do nome e perda de garantias em casos de hipoteca ou alienação fiduciária. Mesmo que a obra não seja concluída, a dívida permanece ativa. Por isso, Ferri recomenda manter uma reserva financeira e contratar profissionais de confiança.
Crédito pode ser útil, mas exige responsabilidade
Para o especialista, o crédito para reformas pode ser uma boa alternativa quando os juros são menores que os de mercado, a parcela é compatível com o orçamento e a obra agrega valorização ao imóvel.
“Mas não é aconselhável quando a renda está comprometida, há instabilidade financeira ou quando a reforma não tem orçamento bem definido. O crédito deve ser uma ferramenta de melhoria, não um novo problema financeiro”, conclui.