Diante de um cenário econômico marcado por inadimplência elevada e juros em patamares historicamente altos, o mercado de créditos estressados tende a ganhar força no Brasil ao longo de 2025.
De acordo com dados recentes, o número de empresas inadimplentes no país chegou a 7,3 milhões em março deste ano — o maior nível registrado desde o início da série histórica. Ao mesmo tempo, a taxa básica de juros (Selic) permanece em 15% ao ano, dificultando o acesso a novos financiamentos.
Nesse contexto, empresas têm buscado alternativas de liquidez que não envolvam o endividamento tradicional. Entre elas, destaca-se a venda de créditos judiciais e o uso de estruturas de litigation finance (financiamento de litígios), mecanismo pelo qual um terceiro investidor antecipa recursos a empresas em troca de participação nos valores a serem recebidos em ações judiciais.
Setor deve crescer 30% em volume de ativos
Estudo publicado em 2024 projeta crescimento de 30% no volume de ativos cedidos por meio dessas operações e de 20% no valor total investido.
A estimativa é de que o setor movimente R$ 37,5 bilhões ainda este ano, além de um potencial adicional de R$ 15 bilhões não captado pela amostra da pesquisa.
A prática já é adotada por grandes grupos empresariais. A varejista Marisa, por exemplo, vendeu créditos tributários como estratégia para reforço de caixa.
A BRF também realizou operações semelhantes. Santas Casas têm recorrido à cessão de ações judiciais contra a União para buscar reembolsos relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Já a empresa Oceanpact, mesmo sem necessidade imediata de capital, cedeu parcialmente os direitos de uma ação contra a Petrobras e obteve R$ 100 milhões.
Judicialização transforma passivo em ativo
Esses casos ilustram como empresas de diferentes portes e setores estão utilizando o litigation finance como instrumento de monetização de créditos e fortalecimento de caixa.
Nesse modelo, também conhecido como third-party funding, o valor em disputa — conhecido como claim — é tratado como um ativo financeiro que pode ser antecipado por investidores especializados.
Empresas com litígios de valor significativo podem, assim, converter ativos judiciais em recursos líquidos, mesmo que os processos ainda estejam em tramitação. Essa abordagem tem ganhado força em um ambiente de crédito restrito e elevado nível de judicialização.
Alternativa para empresas sob pressão financeira
Segundo especialistas do setor, o modelo também democratiza o acesso à justiça ao permitir que empresas menores ou financeiramente pressionadas consigam arcar com os custos de ações complexas contra grandes corporações ou entes públicos.
Ao transformar o claim em um instrumento estratégico de gestão, companhias ganham margem para manter o foco em suas atividades principais, preservar a saúde financeira e reforçar o planejamento de longo prazo — mesmo diante de litígios relevantes.