O ex-ministro da Casa Civil e dirigente histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, afirmou em entrevista à BBC Brasil que o ex-presidente Jair Bolsonaro “não tem condições de ir para uma prisão comum”. Segundo ele, o ex-chefe do Executivo é uma pessoa “instável” e “sem autocontrole”, e por isso, deve permanecer em prisão domiciliar, nas mesmas condições em que se encontra o também ex-presidente Fernando Collor de Mello, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Prestes a completar 80 anos, Dirceu declarou que está se preparando para uma nova campanha eleitoral e pretende disputar novamente uma vaga de deputado federal por São Paulo em 2026 — a quarta de sua carreira. Ele também confirmou que lançará o segundo volume de sua trilogia autobiográfica, na qual aborda memórias de sua trajetória política.
Durante a entrevista, o ex-ministro relatou que a decisão de concorrer novamente foi um pedido direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que encara a candidatura como uma forma de “justiça” e “reparação” após ter cumprido prisões que considera injustas nos casos do mensalão e da Operação Lava Jato.
Dirceu voltou neste ano a integrar a direção nacional do PT e destacou sua relação de longa data com o atual presidente do partido aliado, Valdemar Costa Neto, líder do PL — legenda à qual Bolsonaro é filiado. O ex-ministro classificou Valdemar como “o político mais hábil da direita brasileira” e “um dos quadros mais qualificados do país”.
Os dois se conheceram ainda nos anos 2000, quando Valdemar foi um dos articuladores da aliança entre o PT e o PL nas eleições de 2002, que levaram Lula à Presidência da República com José Alencar como vice. Ambos chegaram a dividir cela durante o escândalo do mensalão, em 2005, quando foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Dirceu relembrou, com tom de humor, episódios da convivência na prisão:
“O Valdemar às vezes ficava bravo comigo, porque eu queria arrumar uma lâmpada para ler. Ele dizia: ‘Zé Dirceu, nós temos que sair daqui, para com isso, parece que você quer ficar’. E eu respondia: ‘Não, Valdemar, eu quero ler’. Felizmente, ele saiu antes, mas eu estava certo — acabei ficando e lutei por melhores condições lá dentro.”
Durante a conversa com a BBC, o ex-ministro também comentou sua relação com Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda e ex-petista, com quem rompeu após a delação premiada feita por Palocci na Lava Jato, em 2018.
“Éramos muito ligados afetivamente, quase irmãos. Eu jamais faria delação premiada. Preferia morrer do que fazer isso. Ele fez, assumiu as consequências, e eu não vou julgá-lo — seria covardia”, afirmou.
José Dirceu, que já foi preso cinco vezes — incluindo uma na ditadura militar, outra no mensalão e três na Lava Jato —, contou que mantém contato esporádico com Lula e, segundo ele, os dois ainda se entendem “por telepatia”, dado o histórico de convivência política de mais de quatro décadas.
A íntegra da entrevista pode ser conferida no site da BBC Brasil.
📎 Nota do editor: Este conteúdo é baseado em entrevista original publicada pela BBC Brasil, com informações reescritas e contextualizadas em formato de press release para fins jornalísticos.