A recente alta do dólar em relação ao real tem chamado a atenção de muitos setores no Brasil. Para quem está no comando das empresas, o desafio vai além dos números: é preciso pensar em como lidar com aumento de custos e redução de consumo.
Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 62% das indústrias no Brasil dependem de insumos importados. Com o dólar mais caro, os custos de importação subiram cerca de 15% nos últimos seis meses. Isso afeta diversos setores, entre eles alimentos, eletrônicos e cosméticos.
Desafios no planejamento
Para Andrea Eboli, estrategista de negócios com mais de 25 anos de experiência, fundadora e CEO da oficina de soluções corporativas EDR, o impacto da alta do dólar exige ajustes em várias frentes. “É preciso reavaliar fornecedores, preços e até o portfólio de produtos. Isso ajuda a reduzir a dependência de insumos importados e a enfrentar melhor esse cenário,” explica.
Segundo ela, é fundamental que o planejamento para 2025 seja detalhado e estratégico, levando em conta as especificidades de cada setor. “Executivos que se antecipam e trabalham em soluções agora vão estar melhor preparados para os desafios do próximo ano,” acrescenta.
Mudanças no consumo e na produção
A valorização do dólar acaba afetando toda a cadeia, desde a fábrica até o consumidor. Setores que dependem de matérias-primas de fora do país acabam vendo os custos de produção dispararem.
Muitas vezes, esse aumento é repassado para os preços, o que impacta o consumo, especialmente de produtos que não são essenciais. “Nestes momentos de crise, os consumidores postergam compras que necessitam maior investimento e racionalizam mais as compras de uso diário,” comenta Andrea.
Possíveis soluções
Para lidar com esse cenário, muitos executivos estão buscando acordos melhores com fornecedores e soluções financeiras para reduzir os impactos do dólar alto. Também estão apostando em fortalecer a produção local, o que ajuda a cortar custos e diminuir a dependência de importados.
As empresas do setor alimentício e de bens de consumo, por exemplo, têm recorrido mais a ingredientes e produtos nacionais. No segmento de eletrônicos, as marcas têm focado produtos de linhas de entrada e na exploração de novos formatos de venda, como assinaturas e planos de pagamento mais flexíveis.
Outro exemplo comum é o uso de hedge cambial como proteção contra a oscilação do dólar, uma estratégia cada vez mais comum em setores como o automobilístico e farmacêutico.
Além disso, Andrea destaca que rever o mix de produtos ofertados pode ser uma alternativa. Produtos mais premium com dependência de insumos de fora precisam ser revistos na tentativa de melhora da margem. Também é importante investir na comunicação e no seu diferencial.
Oportunidades no planejamento estratégico
Diante de tantos desafios, o planejamento estratégico se mostra essencial para as empresas que buscam diminuir os impactos da alta do dólar. Ajustar as operações de forma proativa e considerar diferentes cenários econômicos são medidas que podem determinar a capacidade de adaptação das organizações em tempos de incerteza.
“Estar atento às mudanças e agir rapidamente é indispensável para superar esses desafios. O planejamento agora pode fazer toda a diferença no próximo ano,” conclui Andrea. Segundo ela, os seus clientes que se preocuparam em estruturar planos para cenários adversos estão atravessando este período com maior tranquilidade. “A experiência mostra que, quanto mais cedo as empresas lidam com estratégias para cenários adversos, mais preparadas elas ficam para aproveitar oportunidades mesmo em momentos de crise,” afirma.
Andrea Eboli é executiva com mais de 25 anos de experiência. Atuou em empresas como Natura por mais 15 anos, e é doutora em Negócios pela Swiss Business School, com especializações por Harvard e NYU. Fundadora da EDR, desenvolve soluções para médias e grandes empresas, é professora de MBA na FGV e coautora do best-seller “Pivotal Leadership”. Em suas redes sociais, orienta jovens profissionais em início de carreira.