O talk show “Jimmy Kimmel Live!”, exibido pela rede ABC desde 2003, foi suspenso por tempo indeterminado após declarações polêmicas do apresentador sobre o assassinato do influenciador conservador Charlie Kirk. A decisão, confirmada nesta terça-feira, impacta a programação da emissora e de suas afiliadas em todo o território americano.
O que motivou a suspensão
Em seu monólogo de segunda-feira, Kimmel afirmou:
“A gangue Maga está tentando desesperadamente caracterizar esse garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles e fazendo tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.”
O apresentador também ironizou as homenagens prestadas a Kirk e zombou da reação do presidente Donald Trump ao atentado. As falas provocaram reação imediata de grandes grupos de mídia, como Nexstar e Sinclair, que anunciaram que não transmitiriam o programa “no futuro próximo”.
Andrew Alford, presidente da divisão de transmissão da Nexstar, classificou os comentários como “ofensivos e insensíveis em um momento crítico do nosso discurso político nacional”.
“Não acreditamos que reflitam o espectro de opiniões, pontos de vista ou valores das comunidades locais nas quais estamos localizados”, disse em nota.
Reações políticas e institucionais
O episódio rapidamente ganhou contornos políticos.
O presidente Donald Trump celebrou a suspensão nas redes sociais, afirmando: “O programa Jimmy Kimmel Show, com seus índices de audiência sob pressão, foi CANCELADO. Parabéns à ABC por finalmente ter a coragem de fazer o que precisava ser feito.”
Brendan Carr, diretor da Comissão Federal de Comunicações (FCC) nomeado por Trump, chamou a conduta do apresentador de “a mais doentia possível” e pressionou a Disney (proprietária da ABC) a adotar medidas adicionais. Segundo ele: “As emissoras têm uma licença concedida pela FCC, e isso traz consigo a obrigação de operar no interesse público.”
A única democrata da FCC, Anna Gomez, rebateu, afirmando que: “Um ato indesculpável de violência política por parte de um indivíduo perturbado nunca deve ser explorado como justificativa para censura ou controle mais amplo.”
Repercussão em Hollywood e sindicatos
O caso dividiu opiniões no meio artístico e entre sindicatos: O Writers Guild of America (WGA) classificou a suspensão como uma violação à liberdade de expressão. Já o sindicato de atores SAG-AFTRA afirmou que a medida representa “repressão e retaliação que colocam em risco as liberdades de todos”.
Diversos atores se manifestaram em apoio a Kimmel: Ben Stiller compartilhou no X: “Isso não está certo.” Kristen Bell disse estar “horrorizada com o cancelamento”, afirmando que “o que Jimmy disse foi liberdade de expressão, não discurso de ódio”. Jamie Lee Curtis compartilhou uma declaração de Kimmel: “Eu não acredito que alguém deva ser cancelado, eu realmente não acredito.” Alison Brie classificou a situação como “irreal e muito assustadora”.
Entre o público, reações também foram registradas: a turista Janna Blackwell, que aguardava na fila para assistir ao programa, disse à BBC: “Isso está ficando ridículo. Ele compartilhou sua opinião e está sendo cancelado. Para mim, isso é bizarro.”
Um pequeno protesto em frente ao estúdio reuniu manifestantes com cartazes dizendo “Trump precisa ir embora agora”.
A trajetória do programa
O “Jimmy Kimmel Live!” estreou em 2003 e ocupa a posição de segundo talk show mais longevo da televisão americana com o mesmo apresentador — atrás apenas de “The Tonight Show Starring Johnny Carson”.
Apesar do nome sugerir transmissão ao vivo, o programa é gravado previamente. Uma fonte próxima à rede afirmou à CNBC que Kimmel não foi demitido e que os executivos pretendem discutir com ele como deve se posicionar quando retornar ao ar.
Enquanto isso, a Sinclair anunciou que exibirá, na sexta-feira (19), um programa especial em memória a Charlie Kirk no horário originalmente ocupado pelo talk show.
Contexto do mercado
A polêmica surge em um momento delicado para a ABC e a Disney. A Nexstar, uma das maiores proprietárias de emissoras nos EUA, busca aprovação da FCC para concluir uma fusão de US$ 6,2 bilhões com o grupo Tegna.
Além disso, as redes de televisão vivem um cenário competitivo: em julho, a CBS anunciou o fim do “The Late Show With Stephen Colbert” em 2026, após 11 temporadas. A emissora chegou a um acordo judicial de US$ 16 milhões com Donald Trump após processo de difamação. A própria ABC pagou US$ 15 milhões em outro caso, para encerrar uma ação movida por Trump contra seu âncora George Stephanopoulos.
O episódio evidencia a tensão crescente entre liberdade de expressão, responsabilidade editorial e pressões políticas no ambiente midiático americano. Ao mesmo tempo em que o cancelamento reforça a influência de grandes grupos de mídia e políticos sobre a programação, também levanta debates sobre os limites entre humor, crítica e sensibilidade em momentos de violência política.