Os rumores de uma “guerra” entre os serviços de streaming acontecem há tempos. Mas, pelo menos até agora, tratava-se mais de uma “guerra fria”, sem embates diretos. Esse cenário está prestes a mudar, com a disputa começando para valer. Ainda na liderança, o Netflix se vê ameaçado diante de concorrentes de peso que se lançaram na tentativa de ampliar sua divulgação de conteúdos. Dois deles, Apple+ e Disney+, devem entrar oficialmente na briga já nos próximos meses.
Além disso, está também no páreo o Amazon Prime e há previsão da estreia do HBO Max. Do ponto de vista do entretenimento, a crítica e o público ficam a cargo de analisar qual a plataforma tem sido mais promissora. No entanto, levando em conta as estratégias de negócio, conseguimos ver grandes diferenças que podem ser significantes na hora de apontarmos quem sairá “vencedor”.
O Netflix tem como grande vantagem ser uma marca consolidada nesse mercado. A empresa aproveitou bem o fato de ter sido a precursora desse modelo de negócios e hoje ostenta um valor de mercado de US$ 142 bilhões. Apesar da posição de liderança, com seus mais de 151,5 milhões de assinaturas pagas no mundo todo, há pontos que merecem atenção. Um deles é que dois de seus concorrentes são gigantes: Disney e Amazon têm valor de mercado de US$ 258,7 bilhões e US$ 926,8 bilhões, respectivamente, o que indica um alto poder de fogo.
Além disso, outro fator é que Amazon e Disney têm fontes variadas de receita. A Netflix, por outro lado, tem suas receitas 100% provenientes de suas assinaturas, que hoje variam entre US$ 8,99 e US$ 15,99 por mês.
No caso da Disney, apesar de o valor da empresa ser “apenas” um pouco menor que o dobro do Netflix, seu lucro é bem maior. No último trimestre, o lucro líquido foi de US$ 12,3 bilhões, contra US$ 1,2 bilhões do concorrente. Isso dá a ela uma capacidade de investimento superior.
Em termos de conteúdo, a competição também é acirrada. Se, por um lado, o Netflix tem investido pesadamente na criação de material próprio, oferecendo liberdade para seus produtores e atraindo talentos, a Disney possui grande volume de propriedade intelectual. Incluindo sucessos como Pixar, Star Wars, Marvel, Blue Sky, Os Simpsons e seus clássicos do cinema. Nesse aspecto, é um concorrente que tem um diferencial significativo. O fator negócio acaba também pesando nesse aspecto: gerando mais caixa, a Disney tem muito mais potencial para investir pesado em produção de conteúdo que seus concorrentes.
Outro player que tem vantagem em termos de conteúdo é o HBO Max. O serviço tem por detrás o portfólio de peso da Warnermedia, que inclui os estúdios Warner Bros. além de DC Comics, Cartoon Network, entre outros. O Apple+ acaba saindo em desvantagem nesse quesito, pois teve que começar sua produção “do zero”
Ainda é difícil analisar um horizonte certo para o segmento. A Netflix fechou o segundo trimestre do ano com uma receita de US$ 9,2 bilhões até o momento no ano de 2019. A comparação de desempenho é problemática porque os concorrentes do Netflix não distinguem as receitas de streaming das receitas dos demais negócios em seus balanços. O certo é que há um mercado grande e que está em crescimento. A julgar pelos desafiantes, essa batalha está longe de chegar no seu capítulo final.
Sobre Tiago Reis
Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Tiago Reis é Fundador e CEO da Suno Research, consultoria de análise financeira voltada para investidores individuais. Analista de Investimentos com certificação da CNPI (Certificação Nacional dos Profissionais de Investimento), Tiago iniciou sua carreira na Set Investimentos e é especialista em assuntos como mercado financeiro, bolsa de valores, investimentos, fraudes corporativas e finanças corporativa.