A decisão da União Europeia de permitir o uso de créditos de carbono brasileiros em sua meta climática para 2040 abriu espaço para novas metodologias de mensuração e certificação no setor. A proposta, apresentada em julho, está alinhada ao Projeto de Lei nº 15.042/2014, que regulamenta o mercado de carbono no Brasil e estabelece critérios para compensação de emissões por meio de iniciativas de preservação ambiental.
Com a crescente pressão regulatória global, o mercado de créditos de carbono tem apresentado rápida expansão. Estimativas da consultoria McKinsey indicam que a demanda pode aumentar até 15 vezes até 2030. Em 2021, esse mercado movimentou cerca de US$ 1 bilhão, com expectativa de atingir US$ 50 bilhões na próxima década. Esse cenário reforça a tendência de ampliação de projetos voltados ao reflorestamento e à redução do desmatamento.
Nova metodologia monitora vegetação por satélite
Nesse contexto, a empresa Greenline desenvolveu um método próprio de cálculo de carbono líquido presente em matas nativas e áreas de preservação. A metodologia, certificada pela Bureau Veritas, utiliza dados de satélites de agências espaciais como NASA e ESA para monitorar a evolução da vegetação em diferentes biomas, sem necessidade de coleta física em campo.
Segundo o fundador da Greenline, Lucio Lopez, o uso das bases de dados internacionais permite alcançar alto nível de precisão nas estimativas. De acordo com a empresa, o uso de imagens históricas e equações aplicadas a índices de análise vegetal reduz o risco de inconsistências e evita a dependência de visitas presenciais em áreas remotas.
Mudanças no mercado de certificação
Até a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), os principais métodos utilizados no país eram o REDD+ e o Gold Standard. Ambos envolvem medição presencial, o que pode gerar limitações operacionais e subjetividade na análise. Representantes da Greenline afirmam que o uso de dados via satélite alcança precisão próxima de 100% e reduz riscos de irregularidades, como fraudes ou emissões superestimadas.
Validação internacional e uso de inteligência artificial
A metodologia GREENLINE/GREENSAT passou por cinco anos de desenvolvimento e mais um ano de avaliação técnica antes de ser validada pela Bureau Veritas. O sistema realiza monitoramento contínuo e consolida dados em mais de 200 índices vegetais, analisados por ferramentas de inteligência artificial para mensurar o sequestro de carbono.
Além do monitoramento em tempo real, o método permite retroatividade de até 11 anos, utilizando bases de dados disponíveis desde 2014. A empresa afirma que a abordagem amplia o potencial de retorno financeiro para projetos de preservação, já que inclui períodos anteriores à certificação.
Abrangência e comparações com métodos tradicionais
Enquanto critérios do REDD+ exigem áreas mínimas de 15 mil hectares, a metodologia GREENSAT pode ser aplicada a áreas a partir de 100 hectares devido ao uso de georreferenciamento e sensoriamento remoto. Isso reduz a necessidade de inventários florestais e facilita a inclusão de propriedades menores, especialmente em regiões de difícil acesso.
Expansão internacional
A Greenline afirma atuar no Brasil e no exterior há aproximadamente 18 meses, com 6,5 milhões de créditos de carbono já entregues a clientes e investidores. Segundo a empresa, os ativos verdes são negociados em uma plataforma privada e já chegaram a mercados da América Latina, Europa e Ásia.


















