Um levantamento inédito do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que beneficiários do Bolsa Família destinaram cerca de R$ 3,7 bilhões a apostas on-line apenas em janeiro de 2025, o equivalente a 27% de todo o valor pago pelo programa no mesmo período. O dado acende um alerta sobre o impacto do crescimento das plataformas de apostas digitais — conhecidas como bets — nas finanças das famílias de baixa renda.
Segundo o estudo, a ampla acessibilidade dessas plataformas, que podem ser operadas a partir de qualquer celular, tem comprometido o propósito original do benefício social, ampliando situações de vulnerabilidade e risco de endividamento.
TCU cobra plano de ação
Diante dos resultados, o TCU determinou que o Ministério do Desenvolvimento Social e o Banco Central elaborem um plano de ação para identificar e coibir fraudes e gastos indevidos com recursos de programas de transferência de renda.
Além disso, uma Instrução Normativa da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF nº 22/2025) passou a exigir que as empresas de apostas bloqueiem contas vinculadas a beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Especialistas analisam o impacto
Para a especialista em finanças e tributação Adriana Melo, CFO da SaS Brasil, o uso do benefício em apostas demonstra “um grave descompasso entre educação financeira e acesso facilitado a plataformas digitais”, além de representar “um risco crescente de endividamento entre famílias vulneráveis”.
Já o economista Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa, avalia que o fenômeno reflete desafios mais amplos de regulação e Políticas públicas. “O avanço das bets pressiona o sistema de proteção social e exige uma resposta coordenada entre governo, mercado e sociedade civil”, afirma.
O TCU deve apresentar um novo relatório sobre o tema ainda no primeiro semestre de 2026, após a implementação das medidas determinadas aos órgãos responsáveis.




















